Nas freguesias do Estado de Santa Catarina não houve necessariamente razões para justificar a escravidão e a exploração de aricanos como coisa e força bruta. A população branca era composta de famílias pobres, e elas mesmas trabalhavam o quinhão de terras. Era muito diferente a vida dos catarinenses e a vida dos senhores de engenhos ou dos fazendeiros de café.
Quanto à discriminação social, ela caracterizou-se em face da situação vigente noutras áreas do Brasil. Todas as restrições legais relativas às possibilidades de acesso a determinadas carreiras, eram vedadas aos escravos por incapacidade civil. Os impedimentos legais ao cidadão afrobrasileiro estavam estipulados no Código Negro, juntamente com as posturas municipais.
Ainda que o escravo já se tornasse liberto, não apagava da memória coletiva a condição, que deveria pesar ainda sobre os descendentes.
Uma das regras estabelecidas a-inda foi registrada no início da expansão social do município de Içara: “não poderão passar da primeira porta de um edifício os criados e escravos que acompanharem um sócio ao baile; e aí poderão aguardar a sua volta.” Estas regras de exclusões do escravo e do afrodescendente se formalizaram em Posturas e Ordens da Chefatura de Polícia. A Postura e Ordens eram intensificadas em situações que poderiam favorecer o contato interracial como, por exemplo, o carnaval que era proibido aos escravos e libertos, sob pena de cadeia.
Proibia-se também a dança e os folguedos para escravos e libertos. As expectativas de comportamento do senhor e do escravo deveriam, pois, ajustar-se mediante um sistema de direitos e de deveres que estipulava, de forma irrevogável, as obrigações de todos nas diferentes situações sociais. Como resposta, o escravo procurava fugir e homiziar-se na floresta.
É verdade que nas localidades içarenses estas posturas não foram obedecidas. A população escrava era mínima, e resumia-se quase ao trabalho doméstico. Assim, os libertos sempre estiveram a frente dos festejos de Urussanga Velha e dos folguedos tão comuns na época. Embora havendo muitos filhos de patrões ou outros brancos, as uniões estáveis entre escravos eram comuns, e várias famílias negras são encontradas com mais de três gerações. Um fato diferente de outras freguesias ca-tarinenses onde o escravo era uma peça preciosa pelo preço e, muitas foram vendidas para São Paulo e Rio de Janeiro após a proibição do tráfico negreiro.
A partir de 1870, em Santa Catarina, a crítica de grupos sociais: bacharéis, artesãos, pequenos funcionários, entre outros, trouxe nova consciência à população; especialmente a do Desterro. Assim, a Abolição, em Santa Catarina, não acarretou a desorganização da vida econômica do ex-escravo.
Os artesãos, criados domésticos, trabalhador do campo; continuaram a dispor dos meios indispensáveis à vida. O mesmo aconteceu nas comunidades litorâneas: Içara, Jaguaruna, Araranguá e Tubarão.
Só com o início da mineração do carvão é que as famílias afrobrasileiros se dispersaram, virando operárias mineiras na totalidade. Faz parte da memória cultural africana o trabalho do Grupo Chico Rosa, que preserva a raiz familiar içarense advinda dos anos de 1870. Para o grupo nosso reconhecimento pela nobre missão: preservar a memória dos antepassados com o orgulho de ser um membro da rica e laboriosa cultura.
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