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quarta-feira, 9 de junho de 2010
COLUNISTA - Elza de Mello
Nuances de Vidas em Crônicas (48)
O sol deu o ar de sua graça. Tudo reflete a beleza de um dia de inverno ensolarado. O frio é ameno e as aves gorjeiam em cada recanto verde, ou mesmo nas árvores das praças, que são lugares democráticos e ecológicos. Se preservada pela comunidade local, torna-se um nicho ecológico fundamental para a conscientização humana de que cuidar da natureza é cuidar do futuro da humanidade. Tivemos o alerta na triste constatação do que está ocorrendo nas praias catarinenses, no momento, é o resultado das ações humanas de um tempo passado e, na maioria das vezes quem atuou para a transformação do quadro ecológico não chegou a viver para fazer a interpretação da nova leitura. Que pena!
Em algumas décadas passadas as transformações demoravam mais para ocorrer. Hoje é mais acelerada devido a poluição, ao efeito estufa, ao crescimento demográfico e a ocupação de lugares impróprios pela população. A pressa vertiginosa dos dias atuais não deixa tempo para as avaliações do feito e do fato. O resultado de tudo, especialmente das catástrofes, recai sobre o governante que por sua vez remete para o superior imediato e vai subindo na escala dos governos e a população sofrendo as perdas. O incrível é que pessoas muito simples, trabalhadores, pescadores, agricultores, sabem as razões e as medidas que poderiam ser tomadas. Dificilmente um secretário conhece tanto os recantos das localidades como as pessoas que nasceram, cresceram e vivem ali observando e vivendo as transformações ambientais na localidade. Entre as mudanças em Içara, podemos apontar algumas que fez a diferença em um pouco menos de meio século:
Cito como exemplo o desvio das águas do Rio Urussanga, próximo da Lagoa da Urussanga Velha, com a finalidade de secar as águas e fazer uma várzea maior para a criação bovina, perdeu-se o berçário das tainhas. Acabou a entrada dos cardumes na subida da tainha corseira a procura de águas mais quentes para a desova. A localidade que tinha um ramo de sustentação na pesca da tainha (e de outros peixes) acabou per-dendo o potencial de subsistência e a população precisou abandonar seu chão para procurar o emprego para a subsistência da família. Houve uma mobilidade para o Centro do município ainda num tempo oportuno. Hoje as mobilidades já causam transtornos com os inchaços dos bairros desestruturados e das famílias sem habilitação, passando a ocupar bicos para a renda familiar. Habitando lugares de fácil aquisição, nas chuvas torrenciais, ficam à mercê da disputa com a origem do re-levo e da hidrografia que reclama e ocupa sem cerimônia o curso natural. As medidas tomadas duram até a próxima ocorrência.
Outra coisa importante a ser observada é o assoreamento das barras. Com a passagem e o desaguamento de tantos rios, riachos e lagoas, a barra precisa estar sempre em harmonia com o nível das águas que escoa. Se a barra estiver assoreada, não terá condições de escoar as águas que ultrapassaram do nível da capacidade e haverá inundação com perdas e prejuízos econômicos. A perda ninguém repõe e a população sofre o desespero de ver a lavoura descer com a correnteza das águas e a mesa ficar sem o pão necessário. Que pena que os secretários estejam nos gabinetes falando de tantos assuntos e não incluam as condições de vida dos munícipes. Quase sempre fáceis de resolver se fossem conhecidas por quem governa. Penso que aqui vale um velho e desgastado provérbio: “prevenir é melhor do que remediar”. Só quem conhece a sua terra e a sua gente é capaz de amar e de saber governar.
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