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quarta-feira, 30 de junho de 2010
COLUNISTA - Elza de Mello
Nuances de Vidas em Crônicas (51)
Dia destes me surpreendi com a nota de um estudante da UNESC que cursa História. Ele falava que não há nada escrito sobre os indígenas e os africanos. Argumentava, ainda, que ninguém se preocupou em escrever sobre as duas etnias e só se preocuparam a falar sobre os imigrantes açorianos, italianos e poloneses. Como o texto estava no Jornal Içarense, posso deduzir que ele seja um içarense também e, certamente conhece o compromisso da Secretaria de Educação da Rede Municipal de Içara com o Ensino e a Cultura. Lembrei-me de todo o tempo de pesquisas, as consultas aos documentos históricos, a viagem aos Açores, a visita do Grupo Folclórico “As Doze Ribeiras” da Ilha Terceira em Içara. Convite feito por mim quando lá estive em curso daquela cultura. Foram tantas coisas construídas e vividas para que saísse duas edições da história do município. Tais edições foram pagas pelas administrações municipais, Deobaldo Pacheco e Henrique Guglielmi, 1998, e em 2006 revisada e editada pela administração, Heitor Valvassori e Naelti Vianna.
Em todas as edições o município trabalhou no ensino-aprendizagem as etnias indígenas que em contato com a população lusófona iniciou a primeira cultura econômica, a farinha de mandioca, desconhecida de portugueses e açorianos; e a etnia africana que deu o suor nas roças e nos engenhos e junto aos senhores e sinhozinhos conviveram, sonharam e sofreram como todos os pioneiros que aqui viveram nos primeiros tempos de colonização. A cultura das duas etnias foi absorvida pela miscigenação. Não fosse o fato de o africano ter a tez e os traços anatômicos mais pronunciados, dificilmente os reconheceríamos entre a população.
Fiquei um tempo pensando como acontece o ensino, especialmente como se processa a formação de professores que irão atuar nas escolas e na formação de novos profissionais de educação. As pesquisas que são feitas e direcionam o ensino de um município não poderiam ser desprezadas, e sim, enriquecidas para ser ainda mais utilizada, creio eu. Especialmente agora em que os municípios já possuem a Proposta de Ensino e que o Ensino Fundamental passará a ser de compromisso dos municípios. Não foi à toa que a CONAE foi trabalhada em todas as cidades através das propostas.
Mas voltando as edições de O Município de Içara Nossa Terra Nossa Gente, (2006) o Capítulo III trata com fidedignidade dos indígenas em Içara, a presença e cultura. Um fato muito marcante da tradição oral é o avô do Heitor Valvassori ter sido casado com uma moça de origem indígena, e isto o fazia tão orgulhosos de suas origens. Outros moradores de Urussanga Velha também foram casados, ou casadas com jovens descendentes dos índios daquela localidade. Assim a cultura indígena foi muito absorvida e vivida pelos primeiros içarenses. O mesmo se pode afirma da cultura africana que tinha o seu orago e a festa dedicada à sua cultura em Urussanga Velha.
Içara não contará a história com fidedignidade se não embasá-la com a contribuição das etnias indígena e africana. O Museu Arqueológico da Igrejinha do Balneário Rincão fala por si sobre a presença Indígena e os muitos rostos morenos comprovam que a cultura africana plasmou a cultura içarense bem nos primórdios de seus dias. Outra comprovação rica da presença multiétnica no município de Içara é o monumento na localidade de Urussanga Velha, no pátio da Capela São Sebastião. Nele há, impressas as matrizes formadoras do povo içarense, e participadora da sua formação cultural.
Creio que se fosse valorizada a contribuição e o compromisso com a cultura popular, a educação seria bem mais contextualizada e internalizada em seu conhecimento cientificado. Afinal, educar é uma arte de amor e o compromisso com a verdade e os valores deverão estar sempre muito presentes em quem ensina e em quem aprende. Até a próxima edição.
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