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quarta-feira, 27 de outubro de 2010
COLUNISTA - Elza de Mello
Nuances de Vidas
em Crônicas (65)
Quando floresciam os ipês e as matas parecia um imenso manto dourado, parece que havia todo um ritual da natureza. O sol anunciava os dias bem mais cedo, e a mata ecoava os gor-jeios da passarada em festa. Era comum o início do trabalho na roça, entrecortado pelo voo da passarada. Era no tempo da flo-rada do ipê que se dava o plantio das manivas de mandioca pa-ra a farinha e do aipim para o uso culinário; a se-meadura da melancia, da moranga, da abóbora, do pepino, do melão, do a-mendoim e do milho. A terra arada e desnuda esperava o plantio do produto econômico que o homem europeu conheceu e desenvolveu da cultura indígena, a mandioca. Era quando floresciam os ipês que a juventude, especialmente, usava todo o romantismo na confecção dos rendilhados e nas rimas dos caprichados pão por Deus. Receber um pão por Deus era o compromisso do envio de um mimo como presente de Natal. Era ainda um tempo em que o Natal simbolizava o nascimento do Menino de Belém e, entre as cantorias dos ternos de Reis e o folguedo do boi-de-mamão, as comunidades louvavam ao Filho de Deus nascido no lar de Nazaré. Era belo quando floresciam os ipês! A natureza em festa parecia louvar a Criação, e a Criatura retribuía na faina do seu dia-a-dia.
Hoje ainda florescem os ipês. Abro as janelas de minha casa e vejo as ondas amarelas nas restingas verdes dos bosques. A natureza ainda envia o seu aceno verde e amarelo nas primaveras brasileiras, mas as pessoas desconhecem o fazer cultural de um tempo de colonização. As novas gerações desconhecem a construção cultural de seus antepassados e, se não for trabalhada nas escolas, desconhecerão as raízes de sua cultura. É tão mais fácil consumir a cultura de massa, aos apelos da propagada, ao consumismo que a net propõe e a qual os pais, geralmen-te, não participam. Os filhos da classe trabalhadora passam o período de infância dividindo o seu dia entre a babá eletrônica (a televisão), e a escola pública. A sua adolescência continua a ser assistida pelos mesmos recursos. Os diálogos foram escasse-ados pela falta da presença de pais e também de amigos. Filhos únicos, na maioria, os pais afastam as amizades na tentativa de protegê-los. E são esses filhos únicos e solitários que não sabem dividir com outros, tendo-se uma geração egocêntrica. Como não aprenderam na sua formação de valores, não saberão preservar a família e honrar os pais na velhice. Não poderemos condená-los, não lhes foi repassado os valores mais no-bres da humanidade, o amor. O amor altruísta, aquele que se promove sem interesses individuais.
Mas...se ainda florescem os ipês, se ainda existe amor, se ain-da há pessoas abnegadas que promovam a paz e a fraternidade, ainda poderão ser retomados valores básicos para a formação do ser humano. E estes valores são transmitidos através de diálogos familiares, escolares e religiosos, recursos de comuni-cação oral tão necessário nos pilares da educação. Para a transmissão servem os meios onde se promova a educação informal ou formal. Se ainda florescem os ipês e se preserva o meio ambiente com tanta veemência em nosso meio, ainda é tempo de relembrar os ensinamentos que tivemos no decorrer da formação, e repassarmos para novas gerações. Ainda é tempo de valorizarmos a sabedoria de nossos idosos além dos corpos frágeis pelas perdas que a vida nos premia como troféu da longevidade. Vive bem quem adquire sabedoria para administrar sabiamente os desgastes da vida e, assim, depurar os valores humanos que sublimam o espírito na imortalidade.
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