Indignação de uma mulher
Domingo, à noite, bateu em minha porta, desesperada, com dois filhos, de 4 e 5 anos, a pescadora RBCP. Vinha da delegacia de Içara onde registrara queixa contra o esposo, por agressão física e moral. Lembrando que no dia anterior ela já pedira socorro à mesma polícia, por 9 vezes, sem sucesso. Toda machucada fisicamente, extremamente angustiada, ela me pedia socorro para não morrer.
Pois bem, seu marido esteve preso por muitos anos (latrocínio) e está solto sob condicional (cumpriu 12 anos e tem outros doze para cumprir). Depois de lhe bater violentamente diante dos filhos, quebrar as coisas da casa, a ameaçou de morte, caso o denunciasse. E como ela o denunciou... Pasmem, agora: R registrou BO às 16h e foi mandada para casa com a orientação para fazer exame de corpo de delito (acho que é isso), amanhã (segunda), às 8h, em Criciuma. Se fosse para sua casa, provavelmente ‘ele’ estaria lá.
Na tentativa de ajudá-la liguei para a Polícia Militar no 190 e o policial Douglas disse que nada poderia fazer. Ele me infomou o telefone do Conselho Tutelar – 99944550 – que no momento estava desligado, mas, meia hora depois, atendeu. Mais meia hora de conversa e a conselheira Renildes me informou que a única coisa que poderia fazer, seria abrigar as duas crianças, mas que a mãe não poderia acompanhá-las. Vendo que a mãe não poderia ser ainda mais vitimizada, desistimos de pedir auxílio ao Conselho. Insisti mais um pouco no telefone da Polícia Civil e o policial André me informou que nada também podia fazer. Eu também já estava me desesperando. Pedi – tanto à polícia civil quanto à militar, se poderiam providenciar uma viatura para acompanhar a vítima até sua casa, onde precisava pegar roupas, remédios – e que dormiria conosco ou em uma amiga. Também isso não seria possível, segundo os policiais. Agora já passa da meia noite. Estou chegando em casa. Eu, com 59 anos, fui escoltá-la até a casa e, depois, até a amiga. Duvido que ela, as crianças, a amiga e eu mesma, consigamos dormir, tamanho o medo do que possa acontecer nesta noite.
Preciso ainda dizer que em todas as vezes que contatei com as polícias e com o conselho, me identifiquei com funcio-nária da Colônia de Pescadores Z-33 e como esposa do Presidente do CONSEG, João Picollo, que não estava presente. Todas as vezes contei a história e avisei que o tal esposo estava ameaçando o tempo todo por telefone e era usuário de crack, o que não pareceu fazer a mínima diferença.
Gostaria de ver esta denúncia publicada, antes que o pior aconteça. Para que fique bem claro: usei todos os telefones de referência que as polícias me deram: 3468-1654 e 9614-5091(Polícia da Praia do Rincão não atendia); 3432-3114(Polícia Civil de Içara não atendia); 9994-4550 (Conselho Tutelar); 3902-1720 (Políai Civil não atendia). Precisamos nos indignar a cada dia em que a Lei Maria da Penha e o ECA são desrespeitados...mas de que adianta a indignação. O que fazer diante desse desrespeito cotidiano.
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