Muito cedo eu conheci os meus parentes até graus irreconhecíveis nos dias atuais. Não sei de onde me vinha tal interesse, ou o porquê da possibilidade em manter contato com eles. O fato é que hoje ainda lembro com detalhes, e também com saudades, de pessoas que conheci na entrada de minha infância. E quando falo dessas pessoas, falo, com certeza, de nossa gente e de nossa terra, os quais são personagens também do que escrevo.
Hoje, por exemplo, acordei pensando no Tio Antônio Deca. Era um homem forte, cheio de vitalidade, trabalhava com o sobrinho que adotara como filho; o Preto. E por várias vezes, acompanhando a Tia Cota, tomamos café juntos e acompanhei detalhes de sua conversa entrecortada por recordações. Recordações mais recorrentes era a esposa, Eugênia Réus e a única filha que tiveram, a Joaquina.
Ainda lembro-me da saída do féretro de Eugênia para o cemitério de Vila Nova. O caixão preto foi colocado em um carro de bois e seguiu pelo caminho, (não havia ainda a BR101) para a pequena capela de São Miguel.
Tio Antônio Deca debruçou-se na janela e ficou soluçando, enquanto meu avô tentava consolá-lo.Eu, nos meus cinco aninhos de idade, fiquei deveras assustada.
Depois, meu avô me levou para casa e conversou longamente comigo sobre a morte e as desventuras. A casa ficara vazia naquele dia. A morte da filha já havia antecedido a da mãe. Só a irmã Eugênia, a quem chamavam de Genoca, também viúva, acompanhou a tristeza daquele homem que viveu a viuvez até os últimos dias de vida.
Tio Antônio Deca morava às margens da BR 101. E, lembro que quando iniciou o trabalho da abertura da estrada, com o nome de Federal, ele reclamou bastante porque teve o terreno cortado pela rodovia. Seria necessário atravessar a pista com o carro de bois e meu tio temia que fosse uma missão perigosa, devido ao movimento que a rodovia prometia. Em nenhum momento as pessoas pensavam no desenvolvimento que haveria, mas na perda de um pedaço do terreno de lavoura. E trabalhou até os últimos dias da vida, acompanhado da irmã e dos sobrinhos.
Numa tarde, na longa mesa acompanhada de bancos, na cozinha da casa do Tio Antônio Deca era servido um café com aipim e amendoim cozido, quando ele deu um longo suspiro e comentou: - Ah, minha prima, se a Eugênia estivesse aqui vocês teriam muito o que conversar. Não sei como ainda visitas este teu velho primo? A modo que parece que não tenho mais porque viver neste mundo....
Tia Cota animou ao homem e pediu-lhe um pedacinho de terra para plantar alhos. Ele sorriu, sorveu com força (como costuma fazer) o café da xícara e respondeu-lhe: - “Dou-lhe o terreno preparadinho e tu trazes o alho e plantas. É sempre bom que a mulher plante o tempero e não o homem. Quem pari um filho faz germinar bem s sementes. Depois eu capino e te aviso quando deves colhê-lo”. Assim ela fez, só que logo em seguida adoeceu, nós mudamos de Mineração (Bairro Aurora) para Sanga Funda e não vi mais o Tio Antônio Deca.
Até que na quinta-feira, voltando da rádio comunitária, desviamos pelo Barracão e passei próximo da entrada de sua casa. Veio-me na lembrança a velha porteira onde hoje desemboca uma rua sem fim, com várias casas e, consequentemente, várias famílias ali residindo. A velha morada, mudada e vendida para outras pessoas, ainda guarda vestígios do pomar plantado a mais de um século pelas mãos do saudoso Antônio Deca, um dos primeiros moradores do lugar.
Talvez poucos dos moradores lembrem-no, mas ninguém amou tanto a este bairro como ele amou. À memória dele, o nosso reconhecimento!
Até a próxima edição com mais um assunto...
Hoje, por exemplo, acordei pensando no Tio Antônio Deca. Era um homem forte, cheio de vitalidade, trabalhava com o sobrinho que adotara como filho; o Preto. E por várias vezes, acompanhando a Tia Cota, tomamos café juntos e acompanhei detalhes de sua conversa entrecortada por recordações. Recordações mais recorrentes era a esposa, Eugênia Réus e a única filha que tiveram, a Joaquina.
Ainda lembro-me da saída do féretro de Eugênia para o cemitério de Vila Nova. O caixão preto foi colocado em um carro de bois e seguiu pelo caminho, (não havia ainda a BR101) para a pequena capela de São Miguel.
Tio Antônio Deca debruçou-se na janela e ficou soluçando, enquanto meu avô tentava consolá-lo.Eu, nos meus cinco aninhos de idade, fiquei deveras assustada.
Depois, meu avô me levou para casa e conversou longamente comigo sobre a morte e as desventuras. A casa ficara vazia naquele dia. A morte da filha já havia antecedido a da mãe. Só a irmã Eugênia, a quem chamavam de Genoca, também viúva, acompanhou a tristeza daquele homem que viveu a viuvez até os últimos dias de vida.
Tio Antônio Deca morava às margens da BR 101. E, lembro que quando iniciou o trabalho da abertura da estrada, com o nome de Federal, ele reclamou bastante porque teve o terreno cortado pela rodovia. Seria necessário atravessar a pista com o carro de bois e meu tio temia que fosse uma missão perigosa, devido ao movimento que a rodovia prometia. Em nenhum momento as pessoas pensavam no desenvolvimento que haveria, mas na perda de um pedaço do terreno de lavoura. E trabalhou até os últimos dias da vida, acompanhado da irmã e dos sobrinhos.
Numa tarde, na longa mesa acompanhada de bancos, na cozinha da casa do Tio Antônio Deca era servido um café com aipim e amendoim cozido, quando ele deu um longo suspiro e comentou: - Ah, minha prima, se a Eugênia estivesse aqui vocês teriam muito o que conversar. Não sei como ainda visitas este teu velho primo? A modo que parece que não tenho mais porque viver neste mundo....
Tia Cota animou ao homem e pediu-lhe um pedacinho de terra para plantar alhos. Ele sorriu, sorveu com força (como costuma fazer) o café da xícara e respondeu-lhe: - “Dou-lhe o terreno preparadinho e tu trazes o alho e plantas. É sempre bom que a mulher plante o tempero e não o homem. Quem pari um filho faz germinar bem s sementes. Depois eu capino e te aviso quando deves colhê-lo”. Assim ela fez, só que logo em seguida adoeceu, nós mudamos de Mineração (Bairro Aurora) para Sanga Funda e não vi mais o Tio Antônio Deca.
Até que na quinta-feira, voltando da rádio comunitária, desviamos pelo Barracão e passei próximo da entrada de sua casa. Veio-me na lembrança a velha porteira onde hoje desemboca uma rua sem fim, com várias casas e, consequentemente, várias famílias ali residindo. A velha morada, mudada e vendida para outras pessoas, ainda guarda vestígios do pomar plantado a mais de um século pelas mãos do saudoso Antônio Deca, um dos primeiros moradores do lugar.
Talvez poucos dos moradores lembrem-no, mas ninguém amou tanto a este bairro como ele amou. À memória dele, o nosso reconhecimento!
Até a próxima edição com mais um assunto...
.
Participe: Deixe abaixo o seu comentário, sua opinião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário