A sentença do processo criminal publicada nesta segunda-feira, aponta o engenheiro civil Márcio Peruchi como culpado pelo desabamento do prédio dos Correios de Içara, há três anos. A tragédia resultou em quatro pessoas mortas e duas gravemente feridas.
Conforme o juiz Marco Augusto Machado Ghisi, responsável pela sentença, o desabamento ocorreu devido ao excesso de peso e ao fato de que o cimento utilizado era fraco e não tinha a resistência adequada à obra. Assim, o último andar construído não poderia ser sustentado pelas vigas estruturais.
De acordo com a sentença, o engenheiro não foi cauteloso o suficiente no exercício da arte da engenharia, "não exercendo de modo satisfatório o acompanhamento e fiscalização da obra, pela qual era o responsável técnico".
A versão de Peruchi
Contudo, o engenheiro nega que tenha sido negligente. Segundo o advogado, Sérgio Graziano, o que deixou o cimento fraco foi uma mistura de sulfato com água, que estariam no local, pois a região já foi muito explorada mineralmente. "Quando o prédio foi feito, tudo estava perfeito e o cimento não era fraco. Com o passar dos anos, o sulfato misturado na água foi corroendo o cimento, o que fez com que ele enfraquecesse e ficasse no estado em que estava quando tudo aconteceu: se esfarelando", explica.
Porém, segundo o juiz da Comarca de Içara, essas alegações são de credibilidade duvidosa, já que o parecer foi encomendado pelo próprio réu. "Com efeito, o laudo oficial não disse que não havia substâncias agressivas, mas disse, sim, que estas substâncias estavam presentes e eram superiores ao normal, mas não ao ponto de agredir o concreto da fundação levando ao desabamento do prédio".
Peruchi recebeu a pena de dois anos e oito meses de detenção, a qual foi substituída por prestação de serviços a comunidade pelo tempo da condenação e pagamento de 50 salários mínimos aos sobreviventes da tragédia (o equivalente hoje a R$ 21 mil), e de 500 salários, (cerca de R$ 210 mil) para as famílias das quatro vítimas fatais do desabamento.
O advogado do engenheiro afirma que entrará com recurso, mas ainda não sabe como e quando. "Isso vou saber quando receber o teor oficial da decisão, o que ainda não aconteceu", conta.
A absolvição dos outros acusados
O mestre-de-obras João Nelson Borges e o dono do prédio, José Manoel Cardoso, também eram réus no caso do desabamento do prédio, mas foram absolvidos pela sentença. O primeiro, por apenas ter seguido o projeto que lhe foi apresentado por Peruchi, sem fazer modificações. "Por ser simples mestre de obras, artífice por natureza, apenas seguiu o projeto que lhe foi apresentado e as instruções do engenheiro civil responsável por ele", relata a sentença assinada pelo juiz.
Quanto ao dono do prédio, o magistrado tem a mesma opinião. "Ele não foi o responsável pelo projeto estrutural, tampouco pela fiscalização e execução da obra, pois não tinha preparo técnico para esta função. Não teve, portanto, culpa. Muito pelo contrário, pois contratou engenheiro civil que gozava de bom conceito profissional no município e região", afirma o juiz.
Agora, a Comarca espera pelo recurso da defesa enquanto as famílias das vítimas seguem sem explicações mais esclarecedoras dos fatos.
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