Todos temos nossa hora morta, aquela em que estamos prestes a desistir, em que a aridez do deserto já secou até a faringe. Imagino que a hora morta de Jesus tenha sido no Horto das Oliveiras, quando chorou e pediu à Deus que afastasse dele o cálice translúcido de dor.
Ghandi, Buda, Luther King, Chico Xavier, Madre Teresa, para ficarmos nas figuras religiosas, tiveram a hora de querer desistir, de chorar convulsivamente a razão de estarem ali, como estavam. Não lembro de um filósofo, de um cientista, de um artista que não tenha tido sua hora morta, sua hora de querer desistir de acreditar naquilo que acreditava. Todos temos nossa hora morta.
É nessa hora que o fio da espada separa a vitória da derrota, a dor sem sentido da dor com sentido. Gravando, ou não, o nome na história, todos temos nossa hora morta. Porque a vida é dura... é bela, mas é dura, exigindo de nós todas as nossas forças. A vida não tolera indecisões. Isso pode parecer muito seco e pouco colorido num tempo em que pululam mensagens de confiança e de apologia ao doce laissez-faire (que no bom francês significa deixar fazer ou numa tradução mais pagodiana seria o famoso deixa a vida levar).
Escrever o que estou escrevendo pode significar ir na contra-mão do dita-me, mas as circunstâncias me fazem crer que se deixarmos as coisas acontecerem, elas vão acontecer para pior.
Isto não significa ofender o princípio do dar-tempo-ao-tempo. Antes, significa que devemos usar forças para plantar, regar, cuidar e, aí sim, dar tempo para que o fruto se faça. Mas, muitas das vezes você faz tudo certinho... bem certinho e ainda assim dá com os burros n´água. Então, é aí que entra a hora morta, o momento em que todos os nossos instintos, todas as palavras internas, as nossas e as que não são nossas, nos dizem para largar tudo, parar, desistir, deixar o sol queimar a última gota de água no corpo moribundo.
Então, a questão não é saber se vamos ter ou não uma hora morta em nossas vidas... ela virá! A questão é: Como vou me comportar nessa hora interminável, infindável, que pode durar poucos segundos, ou muitos anos, que pode nos fazer vencedores de nós mesmos, ou eternos pedintes de atenção. Que fazer???
Eu, leitora e leitor, sinceramente não sei. Só sei que quando esta hora chega, o mundo fica completamente vazio em nós. As coisas com muito sentido, já não fazem mais sentido; os valores tão caros, já não são caros, as certezas absolutas viram incertezas correntes.
Você deve estar pensando que estou confundindo a tal hora morta com depressão, a coqueluche do século. Não! Não estou. Depressão é um desgosto crescente e constante, que vai inviabilizando a vida, esmaecendo as cores e aniquilando com a energia vital. A hora morta é um momento nevrálgico, que toma de assalto nossas vidas e tem causa no esforço sobrehumano que fazemos para implantar um ideal, um projeto.
A depressão é resultado de uma acomodação doentia, uma rotina mortificante. A hora morta, ao contrário, nasce do exaurimento de nossas forças diante do grande obstáculo que temos de transpor para implementar uma boa ideia, um sonho.
Jesus ajoelhou, chorou e pediu que, se possível, Deus afastasse o cálice de seu caminho. A hora morta dele durou poucos segundos.
Pessoas como você e eu, leitora eleitor, com sonhos e projetos a criar, com ideais a implantar, podemos nos deparar com uma hora morta bem mais extensa e angustiante, porque batemos com todas as nossas forças nessa parede que nos impede a realização.
Aí entra a ação do tempo, que os vitoriosos conseguem usar como aliado. Eles, percebendo que estão numa hora morta, acalmam toda onda turbulenta dentro deles, resgatam no último porão as forças que ainda restam para poderem reafirmar seus sonhos, ideais, projetos e, com uma firmeza que sequer suspeitavam possuir, olham o mundo de frente e dizem: “Bom, vamos lá... eu sei para onde estou indo”. E vão! Despedem-se, assim, da hora morta, e retornam à vida.
Até a próxima semana com mais um assunto.
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