Sabemos que uma civilização se forja em diferentes processos de contato: competição, conflito, acomodação e assimilação. Assim, o contato entre grupos e pessoas é o responsável pelo refinamento intelectual e cultural.
Falar da contribuição social do afro-brasileiro em Santa Catarina, sempre foi uma tarefa difícil. Em qualquer trabalho científico, ou o discurso que norteia as reconstruções históricas de Santa Catarina, nos dá o sentido de que no Brasil Meridional, em Santa Catarina, o regime escravocrata teve menor extensão e intensidade do que em outras regiões; a colonização estrangeira do modo como se processou, contribuiu para a elaboração de padrões de convivência racial. Também os jornais; as falas dos presidentes das províncias; os relatórios dos viajantes; ou até mesmo a literatura catarinense nos deixaram uma impressão de representação hegemônica sobre as relações sociais. É a configuração de um mundo em harmonia com a perspectiva do vencedor, daí a razão para a dificuldade de corroboração nas pesquisas.
O ideal de democracia social brasileiro, acima das diferenças étnicas e raciais, é o ideal mais elevado que uma coletividade pode propor-se. Mas, para que seja concretizado este ideal, é indispensável saber o que o detém na vida cotidiana. E para esta avaliação, faz-se importante a contribuição do cientista social. Analisando-se as condições, constatam-se, quase sempre, o grau de congruência entre as ações e os valores sociais.
É importante lembrar que o preconceito e a discriminação por si só não degradam nem aos portadores, e nem as vítimas. Mas, ambas são a expressão da maneira pela qual a sociedade e a cultura organizam o comportamento dos seres humanos. É a chave da implantação de estruturas e dinâmicas intelectuais humanas que vão determinar as formas de conceber as pessoas a posição na sociedade em que vivem, até mesmo os direitos e deveres. Assim, criam-se os obstáculos à mudança social, pois internalizam ordens. E são, na verdade, as estruturas e as dinâmicas intelectuais que vão gerar os conflitos causados pelo preconceito e pela discriminação, pois elas calam fundo na consciência humana, aniquilando o indivíduo discriminado. Até porque nenhuma ordem social seria mais perfeita, aos olhos dos senhores de escravos, do século 19, quanto a da sociedade senhoril escravocrata brasileira. Entretanto a sociedade senhoril escravocrata foi, aos nosso olhos, um obstáculo ao desenvolvimento da sociedade brasileira e um conflito ainda hoje vivido pelos afro-brasileiros.
Mas, fugindo da teoria para a prática, vamos olhar à distância, e vislumbrar no início do século 20, aqui em na região litorânea quando as famílias buscavam a posse das terras. Todo o valor econômico era a lavoura e, con-sequentemente as terras para serem aradas. Aos afro-brasileiros ficou, por duas décadas, o encargo da educação escolar. Foram vários educadores que, em salas das humildes residências se propuseram a repassar a escrita e a leitura aos alunos. As pessoas de maiores condições econômicas estavam a trabalhar nas lavouras, empenhados no funcionamento dos engenhos para a fabricação de farinha ou do açúcar.
Até então o discriminatório era não possuir o terreno, e passar pela condição de um agregado. Ser alfabetizado não tinha muita importância, os coronéis eram, geralmente, rudes e analfabetos e, no entanto, decidiam a vida da comunidade. Desta época há a lembrança dos educadores da família Rosa e Vieira, em localidades içarenses; da família Lima, em Jaguaruna; da família Luz, em Criciúma; entre outros sobrenomes que identificam as professoras negras da região. Tais famílias mudaram os endereços residenciais e os educadores foram se revezando por gerações e gerações.
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