Içara por sua peculiaridade historico-geográfica possibilitou a fixação dos povoadores luso-açorianos, desenvolvendo uma cultura típica que permaneceu quase intacta ao longo de mais de um século de existência, desenvolvendo uma economia de subsistência: agricultura, pesca e o artesanato funcional de agulha e linha, cestarias e teares. Além das atividades socioeconômicas, a fé e a sabedoria popular foram os alicerces para a prática de vida, desenvolvida no quase isolamento em que viveram as localidades litorâneas entre o mar e a floresta.
Somente a oralidade quebrou o anonimato com as cantigas dos Ternos-de-Reis, as apresentações dos folguedos do boi-de-mamão. As danças e os cantares trazidos do além-mar, misturados às crendices, aos causos e aos pasquins de alguns poucos letrados, divulgaram às novas gerações a este ser e fazer cultural plasmada em nossas comunidades litorâneas.
Pois bem, hoje já temos estudos, inclusive com dissertação de mestrado em uma Associação Cultural Açoriana Içarense, Academia Içarense de Letras e de Artes, e em contra-partida uma festa que divulga a etnia açoriana como carro chefe. É a costumeira Festa da Tainha revestida de novos valores, organizada no coração das comunidades de base açoriana de nosso município. Mas o que nos causa estranheza, e está sendo cobrado entre nós, idealistas e participantes do fazer socio-cultural açoriano, é não sermos convidados para participarmos da festa.
Sempre que houve eventos no centro de Içara éramos convidados. Até mesmo na Festa de São Donato, quando há a presença das diversas etnias colonizadoras do município, fomos convidados a participar das festividades.
As localidades que festejam o seu padroeiro nos convidam com nossos modestos cantares ou danças. Forquilhinha, sempre nos convidou para a Festa das Etnias. Estamos pensando se o que nos colocou na geladeira e não nos reconhece como grupos formados, registrados e ativos. Será a mudança da coordenação do departamento cultural, da comissão da festa, ou da administração municipal? Mas o certo é que estamos esperando uma resposta.
O livro “O saber popular: mitos ritos e folclore”, é direcionado a uma cultura formadora da população desta localidade festiva e as pesquisas são genuinamente içarense. Não sei por que o saber e o fazer de outros municípios é mais interessante do que o nosso ser e fazer autêntico içarense e rinconense.
Pois bem, nós da ACAI (Associação Cultural Açoriana de Içara) e da AILA (Academia Içarense de Letras de Artes) estamos no aguardo de uma resposta da comissão organizadora da Festa, especialmente da manifestação açoriana.
Em outro evento estadual, o AÇOR, também nos deixou de fora do evento. Como nos calamos, o fato acabou se repetindo. Hoje não queremos e não podemos silenciar, pois achamos que respeito é fundamental.
Parodiando o sábio da cultura popular catarinense, Franklin Cascaes, digo: só amamos aquilo que conhecemos, e se ainda não conhecemos, precisamos ir em busca para sermos autêntico e fazermos as coisas com sabedoria. E garanto que já temos no município de Içara uma boa contribuição bibliográfica, é só consultar nas nossas livrarias e elas com certeza fornecerão os nossos subsídios.
Por fim, apelamos para a Câmara Municipal de Içara que nos deu o aval de utilidade pública, que estamos requerendo um espaço, se possível.
Até a próxima semana com mais um assunto da nossa terra, nossa gente.
Participe: Deixe abaixo o seu comentário, sua opinião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário