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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

COLUNISTA - Elza de Mello


Nuances de Vidas
em Crônicas (60)


Desde cedo acompanhei o desenrolar eletivo em meu município e, consequentemente em meu estado e país. Havia uma avaliação prévia dos discursos dos candidatos. Eram os discursos a base mais sólida para a escolha do candidato. Afinal na análise do discurso estava implícita a ideologia partidária. Não é difícil perceber a ideologia de um trabalhador assalariado e de um empresário, de um morador de zona rural e um morador de zona urbana, de um comerciante e de um funcionário público. O discurso, por possuir o poder do convencimento precisa ser muito bem apreciado e ana-lisado, mas é a arma principal da luta de um candidato.
Minha memória busca os primeiros discursos ouvidos e vejome aos cinco anos em nossa modesta casa de mineiro na localidade de Mineração, hoje Bairro Aurora ouvindo, na leitura de meu avô paterno, a carta testamento de Getúlio Vargas. Meu avô cheio de comoção falava do Pai dos Pobres com uma admiração sincera. Depois, da porta da casa eu ouço um comício e entrecortando o discurso, os aplausos das pessoas que acompanhavam, ou as vaias dos opositores.
Mineração de Içara era a localidade mais politizada. Ouvia sempre os nomes de destaque nacional na fala dos adultos: Francisco Brochard da Rocha, Abelardo Jurema, Leonel de Moura Brizola, João Belchior Marques Goulart. Havia toda uma linha ideológica traduzida por Darci Ribeiro, Anísio Teixeira, Florestan Fernandes, Paulo Freire. O Brasil respirava um halo de populismo desde o Governo Vargas, acentuando-se no Governo Goulart. A cultura popular ocupava um espaço privilegiado no cenário nacional. Içara tomava foros de município e tinha também os candidatos. Revejo os discursos idealistas de Jorge Feliciano e a vitória dos vereadores da Mineração: José João Rabelo e Nério Mello da Silveira. Mineração segurava o seu líder da classe operária. E foi nas eleições de Jorge Feliciano que eu ouvi, pela primeira vez, falar sobre manobras políticas. E foi a tal manobra política que ocasionou a perda do líder mineiro.
Estudava o curso ginasial quando ouvi falar novamente sobre as tais manobras com a derrota de Walmor Paulo De Luca. Vi meus pais receberem o costumeiro ramo de laranjeira para fazer o chá contra cabeça inchada. Minha mãe, tia Helena e dona Lola não aceitaram sem antes dizerem umas verdades que elas consideravam ser de seu direito. Meu pai e meus tios apenas sorriam e educadamente agradeciam. Afinal o resultado de uma urna é sempre uma incógnita para quem trabalha com honestidade, diziam eles. E porque muita gente chorou a derrota de Walmor, a sua vitória a deputado foi uma apoteose a nível municipal. Os votos para o deputado se desdobraram por gerações.
Meu primeiro voto foi para o mandado de 1973, e veio com um trabalho político denominado a ALA JOVEM. As urnas da localidade de Pedreiras mostraram o resultado do nosso trabalho jovem. A administração nos valorizou e vivemos uma época de ideal jovem. Depois me recolhi envolvida pela educação de meus filhos e meus afazeres. Hoje posso avaliar a trajetória política e as simpatias com os governantes de Içara, seja a qual partido ele pertença, pois não tenho comprometimento de minha atuação política que não seja com a verdade de minha avaliação de cidadã içarense.
Percebo que o prestígio de Walmor Paulo De Luca ainda angaria simpatizantes para o voto de Ada, sua esposa. Mas nós, herdeiros da ideologia de nossos pais, nos tornamos desconhecidos e anônimos nos pleitos eletivos. Ocupamos o espaço na família, temos os filhos que nos consultam e precisamos nos firmar, como nossos pais, com nomes e presenças que nos visitem, e que participem de nossos ideais.
Afinal temos ideais em nosso contexto social e já convidamos pessoas içarenses de destaque estadual para a participação da AILA, da ACAI, de nossas escolas, capelas e outras organizações de localidades içarenses, e elas não nos dão o ar de suas graças. Essas pessoas esquecem que, se estão ocupando um cargo ou uma vaga em Assembléias ou Senado, devem aos nossos votos.
Há uma memória política muito tênue com os políticos. Talvez porque pensem que pagando os cabos eleitorais já estão quites com a dívida social. Ledo engano... Pessoas como eu não esquecem nunca!!! Hoje não é necessariamente o marido que lidera o voto da mulher, o pai que lidera o voto da família, mas há todo um diálogo sobre quem votar e porque votar. E quando calam nossas vozes, há sempre uma maneira de falarmos nas diferentes formas de linguagem que o tempo atual nos presenteia. Amar Içara é primeiramente amar a nossa gente...
Até a próxima semana com mais um assunto.

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