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quarta-feira, 18 de maio de 2011

COLUNISTA - Elza de Mello

Aquém dos trilhos Vidas em Crônicas (16)

Os dias escorrem lânguidos e sutis como areias entre os dedos. Os segundos se faz minutos, os minutos se faz horas e as horas con-tabilizam dias, semanas e anos. Tudo passa e tudo mu-da! Para quem não tem o hábito de observar as mudanças que o tempo faz ocorrer na paisagem geográfica e na vi-da social de um povo, parece que nada está acontecendo.
Esses certamente não repetem: tudo muda! Eles sim-plesmente justificam: é a vida! E assim a vida caminha nos passos que se renovam a cada amanhecer de um novo dia.
Folheio entrevistas, que fiz com içarenses, há vinte a-nos passados, e rememoro detalhes que eles me deram de uma paisagem diferente e de pessoas que não cheguei a conhecer. Apenas as recordações daquelas pessoas me deram luzes para defini-las no lusco-fusco de um tempo distante. Mas vale relembrá-las para melhor entender os homens atuais e as paisagens que resultou das transformações sociais aos 50 anos de emancipa-ção política de Içara.
Era uma tarde de domin-go, quando falei com Isaías José da Costa, em Barra Ve-lha, Distrito do Balneáriio Rincão, em Içara. Como es-távamos no mês de junho, o dia era claro e uma brisa fria dava a tonalidade de um dia de inverno. Ele tinha um fo-gão a lenha aquecendo a cozinha de uma casa de pes-cador, caprichosamente asseada e um café quentinho no bule que estava sobre a chapa do fogão. E ali, no aconchego daquela casa de pescador, ele me falou de tempos imemoráveis para mim. O pai, José da Costa, ve-io do planalto catarinense, da Rocinha e a mãe era co-nhecida como Maria Laguna, natural de Laguna. Casados, passaram a residir no Arroio da Cruz, onde Isaias nasceu. Moço, ele casou com Maria Felipe, natural do Torneiro e viveu longo tempo na Carioca, mas participou da vida social de Urussanga Velha, em Içara.
Em 1916, as lavouras de mandioca foram atacadas por gafanhotos. A praga se repetiu por três vezes e as fa-mílias que dependiam da farinha para viver sofreram uma perda irreparável. Só no Governo Vargas o gafa-nhoto foi erradicado. Vargas mandou um avião pulveri-zar os campos e as lavouras com o veneno conhecido como pó-de-gafanhotos, dando um alívio aos pobres co-lonos. Havia também o maranduvá que atacava as ra-mas e o colono fazia mil simpatias e rezas para defender a lavoura. O colono era muito judiado.
Ele relatou o susto que levou quando, pela madruga-da, foi buscar lenha de carro de bois e encontrou uma forma voadora. Era por volta de 1928. Pareceu, a primeira vista, uma nuvem silenciosa. Depois ele olhou mais fixa-mente e viu que parecia uma imensa tora voando em di-reção ao sul. Àquela hora da noite não tinha como não sentir medo porque não sabia do que se tratava. Depois soube que era o Zapelin e que na volta houve um aci-dente aéreo e todos os passageiros morreram. Outro susto foi o tremor de terra que ocorreu em 1934. Mas não houve nenhum acidente grave com o povo. Depois disso a terra não tremeu mais e o povo até se esqueceu das promessas que fizeram a São Sebastião. Houve muitos pagamentos de promessas por anos a fio, até o completo esqueci-mento do fato. “Depois mudei para a Barra Velha atraído pela pesca. João Caixeiro, Mané Tereza, Júlio Tereza e João Amândio eram companheiros de pesca e de fartura de pescados. Pena que não havia para quem vender a produção. Se vendêssemos seríamos ricos. Mas posso afirmar que Içara é rica, bela e acolhedora. Sou içarense de coração e quem ama Içara nunca deixa de admirá-la”.

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