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terça-feira, 19 de maio de 2009

COLUNISTA - Walterney RÉUS: O QUE É AQUILO???

Um pequeno filme grego faz a seguinte reflexão: A câmara corre ao longo de um grande muro de pedra, até alcançar pesados portões verdes de ferro, como portas de um cofre. Os portões entreabertos permitem que a câmara passe por eles e adentre num grande e belo jardim, onde dois homens estão sentados num daqueles típicos bancos de jardim, de madeira ripada. Um é velho e está com as mãos entre as pernas, olhando silenciosamente para frente. O outro homem é jovem e está entretido com um grande jornal. Lê em silêncio.

De repente, o cantar de um pássaro chama a atenção do velho, que olha na direção do silvo, mas não consegue distinguir o pássaro no meio do arbusto. Então, enquanto aperta o olhar ele pergunta: “O que é aquilo?”. O homem jovem desvia o olhar do jornal e diz sem muita atenção: “É um pássaro”. O silêncio retoma a cena e o velho, ainda ouvindo o canto do pássaro, insiste na pergunta: “O que é aquilo?”. O homem jovem, já impaciente retruca: “Eu acabei de te falar, pai. É um pássaro!”. De novo o silêncio cobre o ambiente.

O pássaro alça vôo e pousa em outro canto do jardim. Recomeça a cantar. O olhar do velho procura de onde vem o canto e retorna a pergunta: “O que é aquilo?”. O filho, largando o jornal, responde com toda irritação: “É um pássaro, pai. Um pássaro. UM PÁS-SA-RO !!!”.

O filho olha firme e frio para o pai, enquanto a tarde segue quieta, ensolarada e agradavelmente fresca. O pai com um olhar interrogativo, o filho com um olhar irado.

Continuando, o pai, ainda ouvindo o canto do pássaro, desta vez em outro local do jardim, pergunta: “O que é aquilo???”. É o suficiente para o filho explodir: “Por que você está fazendo isso? Já te falei inúmeras vezes, é um pássaro. Não consegue entender???”.

O pai levanta vagarosamente do banco e se afasta, quando o filho o interpela, rude: “Onde você vai???” O pai faz um gesto para que ele aguarde no banco e entra no casarão. Volta com uma espécie de diário entre as mãos. Senta bem ao lado do filho, folheia o diário buscando alguma passagem. Quando a encontra, entrega o diário para o filho, aponta para a passagem e diz: “Leia em voz alta”.

O filho começa a ler: “Hoje, meu filho mais novo, que fez três anos há poucos dias, estava sentado comigo no parque, quando um pássaro se aproximou de nós. Meu filho perguntou-me vinte e uma vezes o que era aquilo, e eu respondi vinte e uma vezes que era... (aí o filho dá uma funda respirada e continua)... um pássaro. Eu o abracei cada vez que ele fazia a mesma pergunta, uma vez após a outra, sem ficar zangado, sentindo um profundo carinho pelo meu garoto...”

A câmara fecha no rosto do homem velho, o pai, e ele esboça um leve sorriso, um sorriso de saudades, de memória daquela infância que já foi. O homem jovem, o filho, fecha o diário, e por alguns instantes fica olhando para o chão, desviando o olhar para, logo em seguida, abraçar o pai, ali sentado, abraçou com vontade e lhe beijou a testa.

A câmara afastou-se por trás dos dois homens, deixando-os, agora abraçados num silêncio cumplicioso, e subiu por entre a copa das árvores. FIM!

Até a próxima semana com mais um assunto!!!!

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