Na fria sexta-feira de 5 de junho, estava eu, oito da matina, enfileirado com outro colega num evento patrocinado pela Unesc. Fui convidado para participar da Semana do Meio Ambiente, juntamente ao Júlio Cezar Colombo, ele pela Fundação do Meio Ambiente de Criciúma e eu representando a Fundai, de Içara.
A pauta eram os organogramas funcionais das fundações de meio ambiente (e aí... leitora e leitor, estão bocejando? Calma...) e as políticas públicas de estímulo às questões ambientais. O local era o auditório da Unesc e a plateia era formada basicamente por alunos dos cursos de engenharia ambiental e de psicologia (legal ver a turma de psicologia percebendo a interatividade entre psique humana e ambiente). Tinha, ao que me conste, dois professores na plateia, uma da turma de psicologia e outro da de engenharia ambiental.
Meu colega Júlio Colombo fez um breve relato sobre os fundamentos legais e o organograma necessário para uma fundação funcional ("fundação funcional", gostei dessa). Então, na hora da minha fala, enveredei pelo caminho da provocação de conteúdo. Tipo assim, ao invés de ficar falando de políticas públicas de meio ambiente tradicionais, como arborizar ruas, lançar campanhas para economizar água, etc. (não estou dizendo que não são importantes), resolvi questionar a plateia sobre os rumos da sociedade, com aquela velha e utópica retórica de que ou enfrentamos o deus consumo, ou nenhuma política ambiental terá sucesso.
Realcei, durante minha fala, que todas as instituições têm por objeto manter o sistema. Em suma, lhes disse, exemplificativamente, que todos os deputados da região são vinculados à indústria carvoeira, que toda a imprensa regional é atrelada e submetida à indústria carvoeira (e a qualquer indústria que represente relevância econômica) e que o judiciário tende a ser ágil e duro com qualquer cidadão que atente contra o poder estabelecido, mas costuma ser paquidérmico e temeroso quando o inverso ocorre.
Enfim, falei o óbvio. Concluí dizendo que o cerne de todo o sistema, o coração do mal, está na gula insaciável, está no deus consumo, o qual conflita direta e radicalmente com as necessidades de tempo da mãe Terra. Portanto, para sermos realmente úteis deveríamos formar grupos de pressão e com urbanidade mas constância deveríamos usar nossas inteligências para pressionar todos os poderes, todas as instituições. Só assim as mudanças acontecerão, como só assim aconteceram ao longo da história.
Terminei a fala e o mediador abriu espaço para perguntas. Três delas me deixaram aterrados. A primeira foi justamente do professor de engenharia ambiental. Ele teve a infelicidade de iniciar a observação dizendo mais ou menos assim: “Bom... saindo do mundo da fantasia e voltando para a realidade, gostaria de saber quais atos de gestão (...)” tal fala foi seguida, depois, por um aluno, também da engenharia ambiental, que disse: “Não viemos aqui para ouvir blá, blá, blá... somos técnicos, trabalhamos com os pés no chão” e, por fim, uma aluna do mesmo curso, já na nona fase, disse que estava ali para ouvir como fazer para o patrão não pagar multas ambientais.
Eu, com meus botões, pensei... é o fim!!! Depois, pensei melhor e conclui: Esta aberração não é o fim, é apenas a confirmação de tudo o que eu disse. Até as universidades foram cooptadas.
Para minha alegria, a professora de psicologia rebateu o professor de engenharia ambiental dizendo com outras palavras que as universidades são o campo santo do debate de ideias, que se não houvesse sinceridade naquilo que se quisesse expressar dentro de uma universidade, onde, então, haveria?
Pois é, leitora e leitor, nossos filhos estão sendo moldados como bonecos de mercado... coisinhas utilitaristas. Professores vazios, sem luz alguma, montadores de caixinhas, estão matando a genialidade, o desejo utópico, o sonho de fazer diferente que deve nutrir nossas existências até o fim. Aquele professor que disse que enfrentar o grande monstro do consumo é mera fantasia atestou, com a empáfia, a indigência intelecto-espiritual que invadiu como um chorume o campo santo do saber.
Isso significa que devemos pressionar, também, as universidades, para que deixem a mente de nossos filhos livre para a utopia, pois, pelos medíocres, Da Vinci, Lutero, Einstein e milhares de outros estariam fora da escola, por serem lunáticos.
Até a próxima semana com outro assunto.
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