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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

COLUNISTA - Elza de Mello


Nuances de Vidas em Crônicas (28)

É fevereiro, mês do reinício do Ano Letivo. Para alguns professores, uma chatice ter que retornar para a vidinha de sempre: escola, planejamento, diários de classe, alunos em tardes escaldantes de um verão de 40º. Para os pais, especialmente os pais de alunos de escolas públicas, um alívio por saber que os filhos não ficarão mais no ócio, nas companhias indesejáveis enquanto eles estão no trabalho.
Parece que o peso maior é para o pessoal que trabalha com a educação, afinal, há u-ma rotina e um trabalho mental desgastante. Mas, com certeza há um retorno para um trabalho, base da dignidade humana. Depois, há uma infinidade de acontecimentos no mês de retorno das férias: o carnaval, o início da quaresma, a campanha da fraternidade. Basta trabalhar na metodologia da prática pedagógica que será um reforço cultural. Mas o final do recesso escolar é a razão de minha volta da praia do Campo Bom, onde costumo passar os dias ensolarados mirando o mar e acompanhando a rotina da localidade pesqueira.
O carro percorre as estradas poeirentas do Arroio da Cruz, passamos pelo Tor-neiro e atravessamos a ponte do Rio Urussanga, na localidade de Urussanga Velha. A Capela de São Sebastião tão bem conservada, as casas que margeiam a rodovia sem pavimentação e a igreja evangélica me lembram de uma escassa população. Ao fundo a lagoa fazendo três pontas, como um desenho geométrico. Alguns rostos amigos e acenos das janelas. Os campos amarelados pelo sol e as lembranças me acompanham até o ponto em que avisto a residência do Chico Joca. Antiga e acolhedora, a casa me traz a lembrança de tempos conhecidos pelas recordações de pessoas mais idosas. E entre as recordações que compartilharam comigo, estão os bailes de carnaval. Havia o tempo do entrudo em que a juventude aplicava belos banhos com latas d’água apanhadas dos córregos que desciam para a lagoa. Água límpida e fresquinha que muitas vezes sofria uma infusão de polvilho, farinha de mandioca, argila, ou outro ingrediente que fizesse com que o molhado pagasse um mico danado. Se ele estivesse a caminho para um divertimento, ou para um passeio, certamente teria que voltar para mudar de roupa.
Mas a culminância do entrudo era a terça-feira de carnaval. Festejado diferentemente de Portugal ou de Açores, a juventude local falava em pular o carnaval. O rit-mo diferenciado da dança normal, trazia para o carnaval blocos enfeitados e que marchavam ao som da sanfona e de pandeiros. As letras eram quase sempre repentes do Chico Joca. O que não modificava nunca era o ânimo da juventude.
Ainda no mês de fevereiro as localidades festejavam o Santo Valentim, o padroeiro dos namorados em Portugal e Açores. Se para o carnaval não havia uma data fixa, para o padroeiro dos namorados havia uma data dedicada, e um feriado sagrado entre as localidades mais antigas. Neste dia dança-se em uma das casas de famílias locais, se acaso o salão do Chico Joca não estivesse disponível. Quase todas as capelas faziam o terço em seu louvor, e à tarde era marcada pela atração favorita da juventude; a dança. Era uma espécie de devoção e a juventude parecia animar com o brilho e o vigor da idade. Bons tempos aqueles, dizem as didinhas centenárias.
Hoje o dia dos namorados, comemorado em 12 junho, nos dá como padroeiro Santo Antônio, o santo casa-menteiro. Porém, há apenas o apelo comercial para o presente dos namorados e não mais o fervor pelo seu padroeiro como houve aqui, e ainda há em Açores ou Portugal. O sol quente e a vibração do verão não iluminam e nem aquecem o dia dos namorados nos tempos atuais. E isto se dá pelo efeito da aculturação, da modificação da cultuara de base familiar de nossas comunidades mais antigas, embora ainda haja muitos resquícios para quem conhece a cultura de Nossa Terra e de Nossa Gente.

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