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quinta-feira, 22 de abril de 2010

COLUNISTA - Elza de Mello


Do outro lado da linha a presidente da Academia Iça-rense de Letras e de Artes me falou: - Já soubeste do Seu Chico? Não... mas, o que ouve com o seu Chico?- falei eu. E ela responde-me: Ele acabou de falecer! Por uns segundos pairou um silêncio no ar. Depois recomeçamos a conversa e, sobretudo, as recordações sobre o Chico Poeta.
Em um bornal a tiracolo, ele levava os livros e ia oferecendo a quem o encontrasse e parasse para lhe dar um dedo de prosa. Era assim que as pessoas viam-no ultimamente. Mas para quem o conheceu mais intimamente, sa-be da riqueza que foi o viver de Francisco de Souza, o Chico Poeta. Quem encontrasse com ele na rua, normalmente confundia com um vendedor de bugigangas, ou com um jornaleiro. Mas, logo se surpreendia ao saber que aquele homem era o próprio escritor, o poeta. E assim ele ia levando os dias adiante, numa rotina que poucos octogenários conseguiram ter, recitar e vender os seus versos, fragmentos de sua visa.
Desde cedo o menino Chico fazia versos. Com pouca escolaridade e muitas necessidades de trabalhar, cursou apenas o terceiro ano escolar. Mas este tempo de escolaridade lhe deu o letramento, fator tão necessário para colocar no papel a vida política e social do seu contexto, o que está bem nítido em “Todo tempo tem o seu valor”: Feola já preparava/ o grandioso esquadrão/ e partiu para a Europa/ com a famosa seleção. Aqui ele fala da Copa de 1958, primeira conquista da seleção brasileira. Está eter-nizado nos versos de Chico Poeta a data do primeiro título mundial brasileiro: dia 29 de junho/ fica gravado na história/quando saímos triunfantes/ cobertos de honra e de glória.
De Lampião, o cangaceiro que aterrorizou o nordeste brasileiro e se tornou um lendário herói do sertão ficou nos versos do Seu Chico a justificativa de um justiceiro: Virgulino era um menino/ educado e ordeiro/ por causa dos autoritários/ ele se tornou bandoleiro. E arrematando os versos ele ainda justifica a decisão de Lampião: tornou-se então cangaceiro/ porque a sorte foi mesquinha/ tirava de quem tinha muito/ e dava pra quem nada tinha.
Outro personagem heróico para o seu Chico foi Napo-leão Bonaparte: Primeiro Napoleão/ foi do mundo o mais famoso/ tomado de aparatos/ também o mais valiosos.
Continuo na próxima semana.

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