Há cinco anos, homens e mulheres da Santa Cruz trabalhavam a terra quando foram surpreendidos por um barulho seco, metálico, como o guincho do ferreiro. Investigando a origem daquele som, depararam-se com empregados da mineradora Rio Deserto que feriam a terra com enormes sondas. Perguntados a razão daquilo, responderam: Estamos fazendo análises do carvão que esta terra encobre... vamos retirá-lo dali, e transformá-lo em riquezas.
A primeira pergunta: Riqueza de quem??? A segunda pergunta: E a nossa riqueza, que é nossa terra, nossa água, como fica???
Rapidamente a mineradora tomou os procedimentos formais como fazer audiências públicas, onde garantia um mar de felicidade e prosperidade. No dizer deles, todo mundo ganharia. A cidade receberia impostos; os moradores daquela região, emprego, e os donos da mina, evidentemente, o lucro.
Os agricultores tomaram a sábia medida de não serem seduzidos pelo canto de sereia, e foram às cidades vizinhas, onde a mineração é uma realidade. O que viram os deixou aterrorizados. Casas destruídas, perda de águas superficiais, contaminação do lençol freático, dos rios, a terra, febril, adoecia a olhos vistos, enquanto as cidades eram enfeadas permanentemente pelo rastro de carvão que ia ficando pelas ruas, e que lançava no ar uma poeira negra, que atacava irremedia-velmente os pulmões infantis. Por conta disso, iniciaram um movimento de resistência. Nascia o Movimento Pela Vida, que tinha por bandeira: Acorda, Içara. Carvão trás degradação.
Pois, IÇARA ACORDOU. Acordou a tempo de ver que não há mais espaços para o auto engano, para a satisfação de interesses mesquinhos em detrimento do prejuízo de muitos; acordou para perceber que a luta pela proteção da mãe Terra não se resume à reciclagem de lixo, distribuição de mudinhas de árvore ou mesmo palestrinhas em escolas, mas sim, exige de todos os filhos que estão abrigados no seu seio, uma mudança de conceitos.
O povo de Içara se coloca contra a mineração de carvão, não porque quer o mal do mineiro, ou do minerador, mas, pura e simplesmente porque está demonstrado que esta atividade trás pre-juízos irreparáveis, por conta dos lucros insignificantes e que, por cima, são repartidos entre meia dúzia de pessoas.
Içara acordou ao perceber que não pode deixar seus filhos sem saída, sem opção de desenvolvimento. E, os Içarenses de hoje não querem carregar o fardo de serem responsáveis por terem iniciado um processo de desestabilização na delicada estrutura ambiental, criando bolsões de miséria onde hoje há fartura e alegria.
Por isso, como soldados que chegam no momento crucial da batalha, a CDL, a ACII, a UACI, o Movimento de Irmãos e tantas outras pessoas e entidades representadas pelo próprio desejo de participar deste momento histórico, são bem-vindos para cerrarem fileiras com os agricultores do município nesta que, definitivamente, é uma batalha que precisa ser vencida para dar novos rumos à forma de tratarmos nossa Mãe Terra.
A luta é árdua, ninguém se iluda. As forças contrárias são aparentemente pode-rosas, uma vez que controlam o poder econômico, político e a mídia regional. Mas, quando um povo acorda, a-corda com ele a centelha divina que o torna imbatível.
Içara acordou. A Mãe Terra agradece e torce que este povo, unido pelo ideal de um mundo melhor e sustentável, vença esta batalha. Por que, se não vencer...
Até a próxima semana.
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