Publiquei o texto nos idos de Agosto de 2006. Reproduzo hoje, porque ainda cabe: Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade. Cada vez mais dou razão aos versos de Raul Seixas. Vejam vocês, leitora e leitor, o que aconteceu lá pras bandas de Porto Alegre, e que não deu na FOLHA, no ESTADÃO, no GLOBO, na ISTOÉ, e, claro, menos ainda na VEJA.
O dono de uma banca de revistas, Fábio Marinho, tomou a decisão mais insólita para um jornaleiro. Decidiu que não venderia mais VEJA. A notícia, titulada como “Medida Saneadora”, saiu só na coluna do Hamilton, na revista CAROS AMIGOS. O nosso herói (e, depois, ficam dizendo que o Brasil não tem heróis. O que mais tem nesse país é herói), comunicou que cortou a venda da VEJA no estabelecimento porque: Já que, em certa medida, também sou responsável pela difusão da informação, aproveito minha margem de manobra (pequena é claro) para boicotar uma revista que joga contra os interesses do povo brasileiro e não contribui em nada para solucionar os grandes problemas nacionais.
A decisão de Fábio é das mais corajosas, porquanto resulta em forte impacto negativo para seu negócio (do ponto de vista mercadológico), posto que VEJA é o carro chefe das revistas. É como um supermercado resolver não vender mais pão, ou uma lanchonete não vender refrigerante. Daí a demonstração de maior amor ao país, dada pelo Fábio. Perde dinheiro, mas não perde o amor à verdade.
Ele é um filósofo que atua como jornaleiro. Fábio tem consciência de que faz parte da cadeia “produtiva” da informação. Pode até não escrever jornais, revistas, mas os vende. Pena que a consciência de Fábio esteja longe de constituir a essência da consciência das grandes redações, e de algumas pequenas, também, que merecem reflexão.
No último dia 25, por volta das 8h50min, estava eu no trânsito quando liguei o rádio. Sintonizei a “SM Antena1” que estava transmitindo o programa Adelor Lessa, com o próprio no comando. No exato momento em que sintonizei o programa, Adelor estava repercutindo uma notinha que publicou em sua coluna no jornal Tribuna do Dia.
A notinha dizia, em síntese, que esta era a eleição do carvão, que todos os candidatos, com exceção de alguns poucos, elegiam o carvão como uma das prioridades. Ato contínuo, entrou em contato com Fernando Zancan, Secretário do SIECESC (sindicato carvoeiro) que estaria nos Estados Unidos, e trataram candidamente sobre os benefícios do carvão e a necessidade como matriz energética; a capacidade tecnológica que a indústria carvoeira teria de minerar sem causar danos ao meio ambiente.
Liguei para a emissora no ato e pedi para entrar no ar e questionar, tanto ao Lessa quanto ao Zancan, os fatos ocorridos no dia 4/08/2006, em Treviso, quando açudes e poços secaram e casas foram destruídas pela subsidência ocorrida naquelas terras em razão de atividade mineradora.
Não me permitiram falar.
A princípio disseram que eu “entrava com os dois pés” (quem está com a verdade não tem medo nem de dois, nem de duzentos pés, porque a verdade é sólida). Insisti. Pediram, então, que eu aguardasse na linha que me poriam no ar. Não puseram e me deixaram gastando celular. Diante da minha insistência, renovando a ligação, disseram para eu deixar o telefone que me retornariam. Não retornaram.
A questão, das mais elementares, é: Se a indústria carvoeira está falando a verdade, ao se dizer capaz de produzir o lixo sem causar danos ao meio ambiente, porque cargas d´água qualquer fato contrário a essa fraudulenta afirmação é omitido pela mídia local? Quem está falando a verdade não tem medo de “opiniões” contrárias. Se o SIECESC tem a palavra, porque o povo que sofre as consequências do carvão não a tem?
Que jornalismo míope é esse que nega a confrontação entre o “dizer” de um secretário carvoeiro e o questionamento baseado no fato de que as pessoas continuam perdendo as águas, as casas, a qualidade de vida? José Adelor Lessa, o jornalista, deveria prestar atenção em Fábio Marinho, o jornaleiro.
Aliás, a ideia de Fábio Marinho é mais que corajosa, é maravilhosa, é revolução sem sangue. Vamos praticá-la.
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