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quinta-feira, 8 de abril de 2010

COLUNISTA - Elza de Mello

Nuances de Vidas em Crônicas (37)

(...) O sol ainda não havia nascido e os carros se puseram rente à soleira da porta da casa de José para a mudança. Neste momento Ritinha cortou as tranças dos cabelos e pediu que Tião fosse levar ao rapaz. Ele ao receber as tranças do cabelo de Ritinha, lhe enviou o lenço de algibeira para retribuir o mimo. Foi, na verdade uma despedida dos enamorados que estavam partindo por força de um desentendimento. Lá em casa, a mudança continuava a ser organizada. Os pertences e as roupas e louças foram colocados sobre a mesa dos carros e as galinhas e gansos partiram em camponeiras, enquanto o gado ia amarrado no arcavém dos carros. A família ía, ora em caminhada, ora no carro para descansar. E assim, em trinta dias de marcha eles chegaram ao destino. Ritinha estava abatida, e uma palidez tomava conta do rosto emagrecido pela desventura de seu amor, e pelo rigor da caminhada.
A nova casa não lhe acenava bons presságios pois era uma casa de pau à pique acompanhado de um galpão de taipas. Mas mesmo assim José lançou-se ao trabalho com os vizinhos que lhe acompanharam. Só depois da lavoura nos roçados é que os homens voltaram deixando a família que por tantos anos conviveram na localidade de Terra Firme.
O tempo passou e Tião chegou de volta à Terra Firme. Juvenal ao encontrá-lo, foi logo perguntando por Ritinha e então ele lhe falou que Maria, a mãe dela, estava acamada, havia contraído uma febre e foi por esta razão que ele deixou tudo e fugiu. Muitas famílias ficaram enlutadas com a febre e era quase certo que Maria seria mais uma vítima. Ritinha não saia da cabeceira da mãe e o cansaço estava tomando conta da sinhazinha. Daquele dia em diante, Tião passou a morar na casa de Juvenal e muitas e muitas vezes ficavam a conversar sobre Ritinha. Numa noite enquanto pescavam Juvenal conversava com Tião quando ouviram um grito vindo do fundo do cafezal, onde um dia Ritinha morou. O grito era tão visonho que lhe fez estremecer. Ainda com os ouvidos zunindo e silenciosos eles chegaram em casa. Dali a alguns dias o mesmo mascate passou pelo povoado e entre as muitas perguntas dos vizinhos ele falou que logo que Tião deixou os patrões, Maria faleceu e Ritinha, durante o luto do sétimo dia, não resistindo as perdas em sua vida, havia se jogado nas águas do rio, e morreu. Somente o pai estava vivo, mas abatido e sozinho. Continua (...).

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