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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

COLUNISTA - Elza de Mello


Nuances de Vidas em Crônicas (69)

O final da tarde de sábado anunciava as primeiras nuances da noite. O sol já havia desaparecido por detrás da serra quando deixamos a Rodovia SC444 e tomamos o acesso ao Espigão. Íamos em busca da sede do Vila Içara para degustarmos uma paella (comida espanhola de frutos do mar), organizada pela associação esportiva. E então passei a observar o caminho e as mudanças o-corridas, afinal não é um percurso usual em meu itine-rário. Na estrada poeirenta avistava-se a direita a cerca viva, onde pastavam calmamente as vacas do Bertinho Dagostim e, à esquerda, as casas do Loteamento Isabel. Nas casas, já iluminadas, parecia que se preparava a ceia para receber os que voltavam do trabalho. Aqui e ali uma ou outra pessoa chegava e entrava, fechando a porta atrás de si.
E então me lembrei de um tempo em que todas as ter-ras eram patrimônio de Pedro Guglielmi. Não havia di-visão, apenas o mesmo caminho, uma servidão, que le-vava para outros terrenos, especialmente o terreno dos Juncoski, entre matas e roças. E era por esta servidão que as crianças desciam, munidas de material escolar, para ter aulas com a Dona Dina. Era preciso aprender o idioma nacional, a língua portuguesa. O idioma polo-nês, que comunicava tão bem a vida familiar, não pode-ria ser utilizado em outro espaço, pois, estava sendo e-xigida a comunicação apenas no idioma nacional. Então as crianças foram em busca do idioma para ensinar as pessoas maiores, eram quase interpretes entre o idioma da cultura polonesa, mediando a nova cultura que preci-sava ser absorvida em um tempo recorde.
Outra necessidade de locomoção, pela servidão, eram as idas à capela. E houve um tempo em que o horário do terço, na Capela São Miguel, em Vila Nova, era dividido em três turnos: um para os portugueses, um para polo-neses e outro para os italianos. Só depois da unificação da língua portuguesa é que o terço passou a ter um úni-co horário. E como o percurso era feito à pé, o rio era contornado na parte mais baixa sem mais problemas, próximo da casa de Antônio Pavei. O Rio dos Porcos, naquele tempo, ainda não havia sido dragado e dava passagem. Aqui e ali, árvores frondosas davam sombra ao caminho e as orquídeas entrelaçavam os seus ramos.
É... hoje já está muito mudado. Mas o sentimento hu-mano continua o mesmo. Não faz muitos dias, passando de carro com a Fátima e a Graça Pavei, ela ainda falou que nasceu por ali. Não sabia dizer exatamente aonde, devido as mudanças que ocorreram, mas seu coração ainda palpitava ao saber que foi ali que viveu as primei-ras experiências pessoais. O amor telúrico nos marca de verdade quando vivemos uma participação familiar.
Deixamos a estrada que leva ao acesso da Vila Alvo-rada, e continuamos: passamos pela olaria dos Gugli-elmis, um sítio, e seguimos em frente. Depois, seguimos por outra servidão até a sede da associação, e não deixei de admirar o cuidado com o ambiente naquele lugar. Há um coqueiral sombreando o gramado verde e, a poucos metros a cerca que protege o campo, tudo muito bem cuidado. Algumas casas e roças demarcavam ou-tras propriedades. No mais, o isolamento de uma comu-nidade agrícola. Sei que alguns dos nossos alunos resi-dem e trabalham ali, e o campo serve para um lazer sa-dio para os jovens e um encontro de outras pessoas, tal-vez, mães e pais corujas estavam ali, feito eu.
Mas em espaço sadio cabe toda a família, com certeza .Pois bem, esperamos um pouquinho, botamos o assunto em dia com amigos, e logo a paella foi servida. E num clima de harmonia foi degustada por homens, mulheres e crianças. Depois deixamos o pessoal dançando e voltamos. Afinal foi um encontro maravilhoso! Ao chei-ro da palha veio a adesão das lembranças de um tempo vivido e socializado com a prática de vidas; e vidas em abundância.
Até a próxima semana com mais um assunto de nos-sa terra, nossa gente.

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