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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

COLUNISTA - Elza de Mello


Aquém dos trilhos Vidas em Crônicas (4)

O céu era claro na tarde quente e ensolarada. Íamos a procura dos caminhos que fizeram a rota da mi-gração açoriana, na ocu-pação dos lotes de sesma-rias e, na viagem de embar-que da produção agrícola para os portos de Laguna.
Na verdade, era a procu-ra de um tempo perdido e de um espaço geográfico modificado. Mas íamos munidos da convicção de encontrarmos pistas sufi-cientes para corroborar com nossos projetos.
Ao deixarmos a Rodo-via SC 444, atravessamos o loteamento de Pedreiras ao sentido leste, o sentido do sol nascente. Percebe-mos que o caminho das carretas, que conduziam a farinha de mandioca e ou-tros gêneros, estava em grande extensão, inserido no perímetro urbano de Pedreiras.
As casas e-ram delimi-tadas por muros, divi-didos em pe-quenos lo-tes. As capo-eiras de vas-souras-ver-melhas não mais se avis-tavam pelo caminho. Tudo estava mudado!
O fim da linha foi nas terras de Manoel Vargas, o Maneca, filho do Pedro Vargas. Ali podia ser ob-servada a parada do tem-po ao adentrar o engenho de farinha. Quase tudo es-tava igual: o forno de torrar a massa que saia da pren-sa, na vetusta fornalha.
O raspador de mandio-cas, o cocho de lavar, o se-cador e o peneirador, tudo nos transportava a um tempo que tão bem conhe-cemos, o tempo das fari-nhadas. Parecia vermos o terreiro repleto de traba-lhadores e de risos, de vida e de harmonia nos serões diários e nas madrugadas geladas. Era o engenho, o lugar onde a juventude cantava para espantar o sono, para aliviar o cansa-ço ou as mães cantavam à ninar as crianças que recla-mavam a presença delas.
Mas como tudo tem um fio de história, em conver-sas soubemos que aquele engenho tinha pertencido a Gervásio Teixeira Fer-nandes. Com a mudança para Criciúma, o engenho havia sido vendido para Vital Mariano que vendeu para Pedro Vargas. O enge-nho foi montado ali e ser-viu a produção das lavou-ras dos Vargas e dos mui-tos vizinhos.
Apenas, ver o engenho não era o nosso propósito da viagem. Então costea-mos a lavoura de mandio-ca e de melancia do Mane-ca e alcançamos os vestígi-os do antigo caminho, em parte coberto pela vegeta-ção característica de du-nas. Retiro, era uma locali-dade povoada em toda a extensão dos caminhos areentos onde os bois a-tolavam as patas e bota-vam forças redobradas pa-ra arrastar a carreta com a carga.
À frente o carreteiro tangendo a aguilhada instigava os bois para um passo maior. Em determinado ponto en-contramos vestígios de moradas co-bertas pelo capão denso.
Mas dava para perceber a vida organizada que es-teve presente naquele re-canto: as piteiras que cer-cavam hortas e pomares, a fonte de água e de lavar, os cacos de pedras e os cacos de louças, as casacas de mo-luscos. Tudo revelava a vi-da ativa que existiu naque-le recanto coberto por bos-ques e reservados ao gado que se farta da grama tenra trazia de terras distantes.
Só a oralidade é capaz de desvendar o mistério de um passado distante que integra a história de nossa terra e os fazeres de nossa gente içarense, na pitoresca zona litorânea. A vida era laboriosa aquém dos tri-lhos do trem...

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