A noite desceu fria, e um ventinho dava um toque gelado no ambiente festivo. Não poderia ser diferente, estávamos comemorando os setenta anos de vida da menina que nasceu num dia frio de 11 de julho de 1939, em domicílio paterno e, recebeu pelo batismo o nome de Benta Fernandes. Viveu com os pais, tios Plascedina e Juvêncio Fernandes e foi uma menina cheia de vida, e repleta de encantos, atenciosa com familiares e com os amigos. Trabalhou na lavoura com a família, como todas as meninas da época e bem cedo aprendeu as lidas domésticas.
Pois bem, na noite de 11 de julho de 2009, uma noite muito fria, outra jovem estava a festejar os quinze anos de vida e de sonhos. Maíra Serafim Folis, acompanhada pelos pais, Antônio e Ivalete e irmãos, as cunhadas, namorado da irmã, além dos demais familiares e amigos, derramava a graça de sua juventude regada pela a simpatia. Mesmo atarefada, ajudando os pais nas lidas domésticas e na lavoura, o sorriso de Maíra nos convida a rever outras histórias de vidas no mesmo contexto e, a fazer um paralelo do tempo em que distancia as duas aniversariantes.
São 55 anos de diferença entre uma idade e a outra. São outros tempos, pode-se dizer, mas a alegria de festejar datas natalícias, ambas tão significativas para a vida de uma pessoa, nos faz ver nuances em etapas vividas, sonhos despertos, caminhos percorridos. E por haver tanta singularidade entre vidas vividas em lugares afins, mas em tempos distantes, compus um quadro de lembranças do que fui capaz de observar em minha convivência entre as duas mulheres, uma mulher madura e consciente do papel de mãe e avó; a outra do papel de filha, irmã e amiga.
Em Sanga Funda, a caminho do Barracão, entrando a direita de quem vem para o Balneário Rincão, e a caminho do Rio dos Anjos. Foi ali que há mais de meio século, na casa da tia Plascedina e do tio Juvêncio que Benta veio ao mundo para ser, e fazer, feliz aos que dela se fizessem pertencer ocupando um espaço em seu coração. Só as estrelas iluminavam uma noite de luar em quarto minguante. A escuridão natural, iluminada pela lamparina de querosene desenhava imagens dantescas na parede escura das madeiras de lei, que compunham a casa dos pais. Mas o bebê envolto em panos macios, e aconchegado pelo calor da coberta de penas de ganso, dormia calmo e sereno, parecendo saber que estava protegido pelos pais e por todos os que a rodeavam.
Na sua origem simples e cristã, o casal sabia que estava recebendo uma filha de Deus e, tomando para si, uma filha para criá-la, protegê-la e amá-la para toda a vida. É a missão de todo pai e mãe. A casa em que Benta foi recebida foi demolida a pouco tempo. As grossas linhas e caibros de madeira ainda resistiam ao tempo, mas os filhos formaram outros lares e a casa paterna ficou vazia. Doentes e envelhecidos, os pais não puderam mais carregar o peso dos anos e, dormiram o sono tranqüilo da eternidade.
Hoje, os arredores foram modificados e outras famílias entraram para as terras e a vida continua o seu curso natural. Não são todos que conheceram o casal, ou que conhecem a menina Benta que se tornou Benta Fernandes da Luz, esposa e mãe de uma família linda, sonhadora e construtora como a mãe. Em cada ação da Dorza, da Tita, do Gentil, da Dola ou do Jorge, há um pouquinho da essência de amor e de comprometimento da mãe abnegada que, junto ao Dory, (seu marido) administraram diferenças, sonhos e realizações. São 70 anos de vida, e vida comprometida com muitas outras vidas. Os genros, noras, netos e bisnetos são testemunhos vivos desta mulher guerreira; além dos cabelos prateados.
Continuamos esse assunto na próxima semana, que Deus ilumine a todos vocês, leitores içarenses.
Nuances de vidas em crônicas (Parte 1)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 2)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 3)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 4)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 5)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 6)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 7)
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