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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

COLUNISTA - Elza de Mello


Nuances de Vidas em Crônicas (58)

No último domingo, dia 22 de agosto, foi dedicado ao folclore. Então, rememoramos o saber do povo com suas lendas, suas crenças e a oralidade que perpetuou (e perpetua) todas as manifestações . Tais manifestações, mesmo no anonimato, insere-se na alma do povo.
Não há içarense que não tenha conhecimento de uma história fantástica, ou folclórica como falamos atualmente. Todas as mães mais vividas, ou que tiveram contato com outras mães de mais idade, conhecem os malefícios da bruxa para um recém-nascido. As pessoas de áreas rurais, especialmente as mais suprsticiosas temem certas horas “mortas” pela possibilidade da presença de lobisomem, boitatá e mulas sem cabeça. Temos localidades em que os causos das assombrações são mais freqüentes e as personagens chegam a conviver normalmente na comunidade como se fosse uma coisa natural.
Sobre o folclore e suas manifestações há toda uma literatura brasileira, especialmente nordestina. Porém, como o folclore é transmitido oralmente, ele passa a ter a contribuição regional de onde é contado. É comum ouvirmos um causo e pensarmos que já conhecemos com outras personagens ou com outro palavreado, porém é tão similar que chegamos a conclusão que vem de uma mesma raiz; já faz parte do folclore.
Quando criança, tive muito contato com meus avós e bisavós. Ao cair da noite, enquanto descansávamos o jantar, geralmente na boca do fogão, ouvindo o crepitar das chamas, meus avós contavam os causos e nós ouvíamos cheios de apreensão.Por alguns momentos tremíamos de medo, mas logo que o sol iluminava o mundo, o medo ia embora e nos deixava a vontade para a exploração do que ouvimos. O medo nunca impediu que fôssemos a procura da comprovação. Mas o importante é que os causos eram tão instigadores que sempre ansiávamos pela hora de ouvi-los. Boitatás, lobisomens, mulas sem cabeça, bruxas e outras figuras estavam sempre presentes nas horas da oralidade familiar. E este convívio com o folclore marcou tanto a minha infância, que produzi o primeiro volume do folclore no sul regional intitulado: Raízes do Saber Popular: os ritos, os mitos e o folclore.
É o apanhado de crenças como as benzeduras, que me foi repassado com carinho para desmitificar o poder da cura como bênçãos e não como um rito maligno. Nas fórmulas das benzeduras estão os nomes das pessoas e a sua localidade, embora elas afirmassem que possivelmente perderiam o poder da cura por haverem revelado a sua oração. O capítulo III fala dos principais folguedos, um misto de religiosidade e o profano que permeia a fé popular. Há nas manifestações do boi de mamão e cantorias dos Reis, toda a expressividade das manifestações Natalinas, da fé no Menino nascido na gruta de Belém. Porém a composição das personagens e a teatralização do boi de mamão, reflete o folclore e a contribuição étnica onde Ele se apresenta. Depois de uma introdução étnica, há a contribuição regional que vai dar uma série de variações no enredo, nas figuras e na própria manifestação popular.
Quem acompanhou manifestações populares natalinas não esqueceu de apresentadores como Almiro Marcelino, em Pedreiras; a Família Espanhol, em Içara; os cantadores de Reis Ângelo e David; seu Neneco Cardoso e, posteriormente o Joelson. Para quem estuda e pesquisa é visível as transformações ocorridas nos grupos devido a evolução sociocultural. No último capítulo há uma mostra dos cantares e das danças que somente em ocasiões de saudosismo as famílias costumam manifestar. As etnias africanas, polonesas, italianas e açorianas estão representadas em Raízes do Saber Popular. Afinal foi do caldeamento das e-tnias colonizadoras do município que nasceu a cultura do povo içarense. Falar de cultura é falar de folclore e das mais diversas contribuições populares.
Nos capítulos 5 e 6, há uma mostra dos causos de nossa região envolvendo as personagens mítica de décadas passadas. As pessoas que me repassaram os causos juram que é tudo verdade pois elas viram e ouviram tudo o que me contaram. Ainda hoje, há pessoas que me convidam a um passeio em suas casas para me contarem causos que ouviram. Depois que contam os causos, elas mostram o lugar onde ocorreu, e o medo que sentiram. Há uma singeleza tal em suas declarações que não vejo motivo de contestação, mas de um registro. Então meu arquivo está repleto de causos e casos içarenses, acrescentando sempre um ponto a mais no folclore de nossa terra e de nossa gente.

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