O blog JIdiario agora é portal JInews.com.br, com muito mais interatividade e conteúdo atualizado a todo momento. Acesse e confira.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

COLUNISTA - Elza de Mello


Nuances de Vida em Crônicas (67)

Saramago foi um exímio reportador contra o poder constituído e tinha total intolerância com a medio-cridade. Sua ficções são comentários sobre o presente travestidos de aquisição histórica num ambiente mental diferente daquele em que o próprio autor viveu.
Saramago operava um raciocínio atual, sem rela-tivismos, para entender os erros passados. É...ele domava as palavras a favor de suas crenças sempre contrárias a ideologia dominante.
Pois bem, esse pensamento me veio ao estar na Escola de Ensino Fundamental Ângelo Zanellatto, no bairro Primeiro de Maio, a convite da direção e dos professo-res, para contribuir com o projeto pedagógico daquela escola. É de praxe as escolas terem o seu programa de ensino, embasado em um projeto pedagógico que nor-teie a ação político-pedagógico da unidade escolar com a comunidade. Afinal a educação precisa estar entre-laçada e contextualizada com a realidade do educando.
E assim eu tomei conhecimento do projeto: Içara Nossa Terra Nossa Gente Rumo aos 50 Anos. Pois bem, recebi a camiseta e, com surpresa observei o tema do projeto inserido no mapa do município de Içara. Lindo!
É um convite para quem ama Içara vestir camiseta do projeto que, segundo a diretora Dalva de Mello Mar-tignago, poder haver continuidade no próximo ano.
Alí, antevi a capacidade criativa de Saramago, o me-nino rural de Ribantejo transferido à pobreza urbana de Lisboa, em Portugal, aos três anos de idade. E foi es-ta transferência de ambiente que deu ao autor o arsenal para afirmar: Deus é o silêncio do Universo e o ser humano, o grito que dá sentido a esse silêncio.
É verdade... o homem com as suas necessidades, suas angústias, sua procura, ele está sempre cortando o silên-cio com o seu grito, com o seu fazer, com as suas novas construções sociais. Mesmo que essas novas constru-ções tomem como base uma já antiga morada, ou mesmo uma ruína que ainda teima em se manifestar depois de tantos desgastes. Este é o sentido humano, lapdar o que foi posto, seja pela Criação Divina ou pelas convenções sociais. Na natureza tudo se transforma e, muitas vezes, é necessário a ação humana para haver transformações.
Mas voltando ao projeto, e estando eu convidada para falar sobre as influências da cultura na formação de nossa terra e de nossa gente içarense, fiquei muito feliz. Há pessoas, e até mesmo educadores que não percebem que em todas as disciplinas há uma dose se-gura de cultura. Todas as pesquisas científicas foram sendo registradas e colocadas como uma disciplina específica, com o seu conceito essencial. E são esses conceitos essenciais, tratados em currículos e em seus conteúdos, que fundamentam o ensino-aprendizagem.
Agora, o que dá segurança ao pesquisador é saber que os conceitos científicos vieram de usos experenci-ais, de consensos populares. E a cultura subdividida em formal e informal torna isso visível a qualquer olhar. O bom educador sabe que não poderá desprezar o saber experimental que o aluno já adquiriu, juntamente com a linguagem materna. E isso a equipe educadora da Ângelo Zanellatto soube fazer com muita ênfase. Vários seguimentos da sociedade içarense já passaram pela escola, e segundo os educadores, outros ainda irão dar a sua contribuição. Este é o trunfo maior do projeto.
Há quem pense que os cinquenta anos de emancipa-ção político-administrativa esteja restrito aos trilhos do trem. Para Saramago, seria uma incoerência falar em emancipação político-administrativa sem um em-penho anterior, sem um desenvolvimento econômico antecipando uma conquista social que requer um po-tencial econômico capaz de suprir a sua estrutura ad-ministrativa. Ainda bem que Deus é o silêncio e a escola poderá ser o grito que dá sentido a esse nobre silêncio. E, depois da quebra do silêncio na arquitetura de um projeto, a escola ainda socializa este fazer pedagógico com tanta eficiência.
Parabéns às equipes gestora e educadora pelo nobre projeto, e a toda a escola pela participação e ação demo-cráticas tão importantes à educação. Educar é também um ato de carinho, e quem sabe faz a hora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário