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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

COLUNISTA - Elza de Mello



Aquém dos trilhos Vidas em Crônicas (2)

Abro o jornal e leio a manchete: Homem assas-sinado com sete facadas. Ao saber que o fato ocorreu no Balneário Rincão, a mi-nha curiosidade fica ainda mais aguçada. Sobretudo para mim que cresci brin-cando sobre aquelas du-nas, andando rente a La-goa do Jacaré, pegando á-gua do arroio para o uso da casa. Um lugar, para nós, crianças, inofensivo e cheio de belezas. Embora nas conversas dos adultos eles falassem do ocorrido no Capão do Alfaiate, nós não sentíamos qualquer ameaça de perigo, tão tranqüilo era o Rincão de minha infância.
Conhecíamos cada mo-rador: Seu Luiz Fernan-des, Seu Regino, Seu João Viana, Seu Zé Lino, Tio Antônio Machado, Seu Joãozinho eletricista, Seu Joãozinho motorista, Seu Vicente, Seu Bernardinho, Seu Niqui-nho Rocha, a família da Dona Noca, entre outros moradores do Rincão que eram re-sidentes com as suas famílias.
Era co-mum irmos na praia a-panhar al-guns peixes para a Tia Ma-ria fazer o almoço. Quan-do ocorria a demora da en-trega do peixe do almoço, as mulheres sabiam que es-tava dando um bom peixe no mar. Então mandavam os filhos apanhar o peixe, e os homens continuavam pescando. Depois do al-moço, nós, as meninas, la-vávamos as louças, e lim-pávamos a cozinha. As mães limpavam os peixes enquanto conversavam sobre a vida, a rotina da fa-mília, o alto preço do custo de vida. Os homens tira-vam uma soneca e depois sempre encontravam uma partida de bocha, ou uma conversa sobre a política.
As crianças, naquela é-poca, brincavam nas dun-as alvas e exploravam os recantos mais inusitados. Muitas vezes éramos atraí-dos para a praia com o en-calhe de uma baleia, com a presença de um espetáculo oferecido pelos golfinhos que repontavam cardu-mes de sardinhas, ou de tainhas; com a pesca de si-ris com as cocas; ou as mã-es tirando mariscos en-quanto a criançada brinca-va livre nas ondas ou fazia castelos nas areias. Não cruzavam veículos pela praia, portanto não havia o receio de alguns dos muitos filhos serem atro-pelados.
Quando foram construí-dos os primeiros hotéis, Seu Jacó passou a parti-lhar a vida do Rincão e a proporcionar, junto com Luiz Fernandes, Vital Ma-riano, uma certa seguran-ça aos turistas. O Rincão dos veranistas poderia ser também de turistas, pois, os hotéis garantiam um pernoite seguro aos visi-tantes de outros municí-pios vizinhos.
As margens do arroio, onde moravam os resi-dentes fi-xos, foram dando lu-gar aos no-vos veranis-tas e o Bal-neário Rin-cão foi cres-cendo, tra-zendo co-merciantes fixos. Se ha-via uma po-pulação rin-conense, era natural que houve tam-bém estruturas para o de-senvolvimento social.
A escola iniciada pela Dona Noca, primeira ins-tituição cultural, foi se-guida pela regência de Ma-ria Oliveira Machado, no-ra de Antônio Machado, o capelão que atendia as ne-cessidades espirituais da localidade, dando conti-nuidade ao trabalho do padre Bernardo Junkes.
Já, a Dona Rosa Macha-do atendia as parturientes e dava as boas vindas a ca-da rinconense que nascia.
A comunidade pesquei-ra vivia a fraternidade aos moldes da cultura caiçara nos tempos da minha in-fância.Hoje, as pessoas a-dultas que conheci, já não assomam às janelas para nos darmos bom-dia! Mas as manchetes, que nos revelam a barbárie dos tempos atuais, nos trazem em nuances, uma época em que vivíamos a certeza do amor fraterno.

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