Ainda falando sobre a criatividade da arte popular, Lobato nos mostra a realidade do povo brasileiro, no ano de 1914, quando cria Jeca Tatu, destacando a pobreza e a ignorância do caboclo, intitulando-o de Piolho da Terra.
O título dado ao caboclo pretendia mostrar que, quando o homem entra em um estado miserável, na baixa pobreza, é incapaz de se manter e se auto promover, especialmente se for na agricultura. E o Jeca tornou-se o símbolo da cultura brasileira da época. Até porque, nesta época, a agricultura era a maior expressividade econômica do país.
Outra criação de Lobato foi o Saci, personagem da mitologia brasileira. O Saci trouxe para a literatura brasileira a possibilidade de mostrar as crendices do povo como um fundamento cultural. Penso que Lobato fez da literatura um núcleo de defesa da cultura nacional para combater a influência das idéias estrangeiras. Depois da iniciativa de Lobato, muitos mitos de criação brasileira, ou de influência das etnias colonizadoras do Brasil, foram mostrados ao povo.
Tomamos como exemplo a literatura de Franklin Cascaes. As crendices, ilustradas por Cascaes, nos mostra o imaginário do povo da ilha de Santa Catarina, em sua essência criativa.
As histórias que o povo passava oralmente foram escritas e ilustradas pelo catarinense. E foi por haver este registro que eu pude comprovar as semelhanças e diferenças entre: o folclore catarinense ilhéu, e a nossa microrregião carbonífera.
Ou mesmo a maneira de brincantes se apresentarem, ou os enredos da arte do boi de mamão. Tudo dá margem a estudo e aprofundamento da arte popular. Se o Saci é o carro chefe do folclore da região sudeste, a bruxa é o carro chefe do folclore catarinense, na região sul. Até porque as localidades içarenses falam com tanta intimidade desse ser fantástico, que há pessoas que juram conhecerem a bruxa que lidera em tal comarca, ou os lobisomens que percorrem as estradas interioranas de nosso município.
Pois bem, é de fundo popular o adágio que aprendemos e repetimos constantemente: “a arte imita a vida”. É por esses ditos que percebemos o quanto a crença e a arte popular estão enraizadas em nossa cultura. Mas para levar este substrato até a cultura erudita, precisamos primeiramente acreditar que o senso comum é a primeira base de construção.
Acreditar que a nossa linguagem materna, é o arsenal mais produtivo na construção da linguagem culta. São estes contextos que precisam ser trabalhados na escola, como uma bagagem a ser renovada e inovada. E não pensarmos em esvaziar os conhecimentos de base familiar, pensando que estamos fazendo uma construção. Até porque para fazermos uma construção, ou um novo produto, precisamos de matérias primas. E a matéria prima do ser humano é, primeiramente, a sua linguagem materna, e toda a semasiologia adquirida no berço. E por mais que estudarmos, que nos refinarmos em teorias, e outras águas científicas, é sempre o nosso vernáculo que identifica o nosso berço.
E a literatura é a arte complementar de uma língua e a expressão maior de uma cultura, pois é o registro de todo o fazer cultural.
Até a próxima semana com mais assunto ligado à cultura de Içara.
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