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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

COLUNISTA - Elza de Mello - Nuances de vidas em crônicas (14)


Um sol morno e claro iluminava o Dia da Pátria, 7 de setembro, embora todas as previsões fossem de chuva. Depois do almoço meu marido Jorgemar convidou-me a visitar uma parente que há alguns anos não víamos, embora muito pouco contato tivéssemos com ela, a visita já estava planejada há algum tempo. Dona Laura era muito lembrada em casa de meus pais, ela era uma das primas de meu pai, que sempre elogiava a paciência, o bom humor e o carinho para com os familiares. Aliás, era uma das qualidades das filhas do tio Lucas Salustro, como era conhecido. Então fomos até a casa do Mauri e da Mariquinha, sua nora, onde ela está morando.
Já acometida por um AVC (Acidente Vascular Cerebral), pouca foi a conversa oral, mas muita a participação emocional; capaz de nos dizer tudo o pretendíamos conversar. E se acaso não entendíamos, ela escrevia o que pretendia nos dizer. Aí está a maravilha da linguagem escrita. Ela é capaz de nos dar capacidades para participarmos de eventos ímpares na sociedade. Veio-me na lembrança a passagem bíblica que fala do anúncio do nascimento de João Batista a Zacarias. Incrédulo, ele ficou afásico, mas ao nascer o menino, tão logo ele escreveu o nome que lhe seria dado, a língua como que desatou-se e ele pode então falar tudo o que precisava. É, a linguagem bíblica, tão cheia de metáforas, nos guia por diversas explicações.
Mas um fato até curioso, é a aquisição da escrita e da leitura por pessoas de idade avançada e que viveram em lugares tão ermos, como Dona Laura. Ela escreveu o nome do professor: João da Rocha Porto. Claro, aí tudo fica explicado. O educador era genro de Bertholino Liseu de Mello e, consequentemente, sobrinho do professor Salus-tiano Nunes de Mello; avô de dona Laura. Eles sempre conservaram a leitura e a es-crita nas localidades onde residiam. Logo que o professor Salustiano deixou o magistério em Urussanga Velha, mudando-se para a localidade de Coqueiros, ele preparou um aluno para seguir na escola de Urussanga Velha, o professor Salustia-no Antônio Cabreira. Tal era o compromisso com a educação!
Bem, o resto da tarde, nós passamos falando de tempos idos e vividos. E enquanto falávamos Dona Laura nos acompanhava com toda lucidez. Falamos dos antepassados, de pessoas que conhecemos apenas pelas falas de nossos familiares e, se estamos em uma terceira geração, em relação aos nossos pais, era como se estivéssemos no mesmo contexto. As nuances que víamos estava clarificada pela companheira de uma caminhada que antecedeu nossos dias. Dona Laura exprimia o prazer de relembrar os antepassados pelo brilho de seus olhos.
Uma coisa fabulosa é observar a ousadia de nosso ancestral, aqui, em Içara. Ele colocou a sua casa onde havia um olho d’água, em pleno campo de terras arenosas. Lá se vão 110 anos e o olho d’água continua existindo, e servindo ainda a comunidade.
É claro que houve muita preservação do ambiente. Onde foram retiradas as árvores naturais, foram plantadas as árvores frutífera, o cafezal, e toda espécie que pudesse servir à família e preservar o ambiente da nascente d’água. Não poderia faltar a água tão necessária à vida da família e as lidas no engenho de farinha.
Percebe-se então o senso de preservação ambiental. Talvez por ter sido pensado por um mestre de barcos, que deixara a rotina de embarcado para se tornar professor, houvesse tanto conhecimento e valor ao ambiente.
Só quando a chuva começou a cair, depois de um relâmpago é que deixamos a casa da Mariquinha e do Mauri. Voltei para a casa com a alma em festa por tão acolhedora visita.

Até a proxima semana com mais um assunto de nossa terra, nossa gente.

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