“Eu queria poder voltar atrás, e refazer tudo de outro modo”, ou então, “não me arrependo de nada do que fiz”, são frases que marcam nossas reminiscências, as lembranças da vida vivida ao nos depararmos com as velhas caixas de fotografias, ou, com as cartas escritas há tempos, quando nos permitíamos escrever o que bem entendêssemos pela simples ausência de experiências a nos censurar as palavras (sim, leitora e leitor, no mais das vezes nossas experiências de vida são nossos maiores censores).
De minha parte penso que quando afirmamos para nós mesmos que queremos voltar atrás para fazer tudo de outro modo, tomar decisões diferentes das que tomamos, estamos apenas elaborando uma chave que nos aprisiona no passado, que nos amargura o presente e nos aterroriza o futuro. Afirmar, de si para consigo que gostaria de refazer tudo, de decidir diferente, é ser muito duro consigo mesmo. É esquecer que lá atrás, de regra, nossa cabeça, nossa experiência nos permitia tomar aquela decisão tomada.
De outro lado, “livrar-se” dos erros afirmando que “não me arrependo de nada que fiz”, me parece uma infantil forma de fugir da reflexão, porquanto uma coisa é sermos tolerantes com nossas decisões, porque foram as melhores que pudemos tomar naquele momento. Outra, diferente, é negar que muitas das decisões por nós tomadas, a despeito de acharmos que eram as melhores, em verdade nos causaram profundo prejuízo.
Assim, se o melhor proceder não está em achar que fiz tudo certo, ou, que fiz tudo errado, onde então estará a melhor fórmula para convivermos com nosso passado, com as decisões que já foram tomadas e estão gerando consequências? Acredito que, como sempre, a solução está na filosofia chinesa quando afirma que o bom senso está no meio.
Lá atrás, escolhi esta faculdade ao invés daquela vocação? Escolhi casar, ou não casar? Escolhi esta cidade, aquela roupa, aquele amor, aqueloutra ideologia ou, deixei que escolhessem por mim (uma das piores escolhas)? Fugi do beijo certo? Insisti no beijo errado? Falei demais? Calei covardemente? Chorei lágrimas que não deveriam ter rolado? Endureci quando deveria chorar? Desacreditei muito cedo? Continuei acreditando quando estava na cara que deveria parar de acreditar?
Deus do céu...quanta decisão fui tomando... mas tomei. E hoje, cá estou. Um resultado pronto e acabado do ontem, uma massa pronta para modelar o amanhã... mas uma massa já um tanto endurecida, esturricada pelo sol da vida.
O bom senso está no meio. Então, se não me adianta abrir feridas na carne com o látego da culpa, com a chibata da intolerância, posto que o que fiz, decidi por fazer, está feito, do mesmo modo não me ajuda em nada não aproveitar o que já fiz para apurar se hoje não faria diferente.
Isso não significa viver em estado de arrependimento. Significa pura e simplesmente que quero tirar proveito das consequências daquilo que já decidi, quero sentir o gosto, doce ou amargo, do resultado daquilo que plantei... isso é a vida!
Não preciso mudar de trabalho todo dia... posso mudar a forma de trabalhar. Não preciso trocar de esposa ou marido todo ano... posso trocar a forma de estar casado. Não preciso mudar a música a todo instante, mas sim, aprender a ouvir de novo.
As névoas da memória são fruto do medo de vermos, a céu de anil, que aquele passado que nos acompanha como sombra mais não é que um mosaico da multidão de escolhas que fizemos para construir esse bem inestimável chamado vida.
E, tenham certeza, melhor que viver, é viver por nossa própria decisão.
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