Gervásio era um alicerce sólido que a grande comunidade litorânea de Içara podia confiar. Desde a educação até as decisões socioeconômicas, o povo buscava o apoio do comerciante, que procurava sempre ajudar ao pequeno agricultor; impulsionando o progresso e o bem estar da população. E o neto não esquece a dose de carinho com que a avó partilhava na vida familiar. Não é a toa que se afirma que um grande homem tem a sombra uma grande mulher. Dona Bilica foi realmente uma grande esposa, uma irmã fraterna, e uma vizinha solícita; generosa para com todos. Protetora ao extremo, ela sofria cada vez que um castigo fosse aplicado a algum dos netos: Sebastião, Salmir, Sérgio, Silézio, como forma de educá-los. Não concordava com a violência. Então lá vinham os mimos, as guloseimas e os cafunés aos pequenos netos.
Dos moradores da localidade, ele fala com saudades e até admiração. Não esquece dos mandadores dos boi-de-mamão e dos ternos-de-Reis da infância: Manoel Marcelino, o Manoelinho; Antônio Inocêncio; Eusébio Vila Nova; Manuel Inocêncio; todos cantadores de Reis que deixaram a tradição das cantorias para os filhos e hoje estão com os netos. É muito bonito lembrar de Almiro Marcelino cantando as alvoradas e mandando o boi-de-mamão. Mas é maravilhoso observar o neto, Jean Marcelino Pereira cantando e mandando o boi-de-mamão, a exemplo do avô ou do bisavô. São lembranças e presenças marcantes em Içara.
Umas eu cheguei a conhecer, e até participar. Outras eu revivo na memória de pessoas que conviveram e que souberam compreender como sendo uma manifestação cultural de nossos ancestrais. E isto é manifestação cultural viva! É importante lembrar que as mulheres sempre estavam presentes, mesmo no silêncio feminino que a manifestação requeria. As mulheres não brincavam nas figuras do boi-de-mamão e muito menos poderiam se atrever a cantar nos ternos-de-Reis. Mas a participação era indispensável no recebimento e nas ofertas gastronômicas que a ocasião requeria: as broas degustadas com a consertada de vinho, e até mesmo a ceia com galinha ensopada, quando avisado com antecedência. Receber as visitas e os grupos que percorriam as localidades, em cantoria era auspicioso.
Toda a movimentação das carretas carregadas com farinha de mandioca para o embarque em Garopaba, indo e vindo pela praia ou, mais tarde, para os galpões próximos às estações dos trens, é muito lembrada por quem viveu algumas décadas atrás. Especialmente as crianças que viam na movimentação dos comboios de carros-de-bois uma aventura ímpar àquela época. Esta admiração fez com que voltasse a residir no Rincão e pudesse compartilhar com decisões socio-políticas de nossa terra e de nossa gente.
Quando falamos em decisões voltadas a este prisma da questão, percebo o engajamento nas decisões sobre os destinos de emancipação do belo e maravilhoso Distrito do Rincão; tão perto de ser Município. Seu avô, Gervásio, foi intendente do Distrito de São Sebastião – Urussanga Velha – e um dos veranistas do Rincão nas décadas final de 30/50. Também foi suplente de conselheiro municipal por Criciúma, nas eleições de 27/11 de 1926, levando 309 votos, enquanto o mais votado, Pedro Benedet ganhou 320 votos. É importante salientar que com a emancipação de Criciúma, a sua instalação deu-se em 1° de janeiro de 1926. A liderança de Gervásio está retratada pela expressividade dos votos que teve, assim como a população litorânea também se mostra pelos sufrágios levados pelo candidato da comunidade de Pedreiras.
Assim, o sonho de emancipação das localidades litorâneas de Içara não é tão novo, apesar de mudar de endereço e atrasar em algumas décadas. Mas valeu a pena sonhar. A utopia precisa prevalecer para termos novas realizações.
Nuances de vidas em crônicas (Parte 1)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 2)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 3)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 4)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 5)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 6)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 7)
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Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 13)
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