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quarta-feira, 1 de julho de 2009

COLUNISTA - Élza de MELLO: Nuances de vidas em crônicas (Parte 2)

A chuva miúda e tocada pelo vento não dava segurança para a minha sombrinha comprada no R$ 1,99, embora por um preço bem mais alto. Criado depois da aposentadoria dos idosos agricultores, o R$1,99 foi o shopping para as aposentadas. Ali era possível encontrar um mimo para presentear os netos, as comadres, as amigas secretas nos clubes; entre outros presentinhos que costumamos ofertar.

Hoje o preço não é mais o mesmo, qualquer lembrancinha está bem acima, mas a sedução pelo R$ 1,99 ainda nos leva a procurar nossas necessidades mais urgentes. Assim sai da Galeria Fortulino com a minha sombrinha para enfrentar o tempo lá fora.

Desci a Rua Marcos Rovaris e tomei a Rua Ipiranga, caminho da Rodoviária. Observei, rapidamente, a vitrine da Loja Otomar e lembrei da época em que o Seu Valdemar Bitencourt nos atendia na mesma loja. Naquela época a loja não possuía vitrines e o que desejávamos pedíamos a ele, que nos apresentava o que procurávamos em caixas de papelão, enquanto nos olhava com as mãos no suspensório. Havia as caixas de botões, a caixa das fivelas, a caixa das linhas e também a caixa de figurinhas; o que mais buscávamos para decorar os cadernos. Para os de geografia, procurávamos as figurinhas das estações do ano, das fases da lua, dos acidentes geográficas: rios, mares e oceanos; algo que ilustrasse os assuntos apresentados pela Dona Dirce, nossa professora. Na disciplina de História, lecionada pela Maria Eunície, havia as datas históricas: Grito do Ipiranga, Abolição dos Escravos, Proclamação da República; uma gama de ilustrações que sintetizavam o assunto em pauta.

Até mesmo pedíamos a opinião do Seu Valdemar, e ele nos orientava como um avô ciente de nossas obrigações de alunos. Nossas notas eram conquistadas com estudo e pelo esmero de nossos trabalhos, especialmente pela nossa escrita que precisava ser legível. Não poderíamos negligenciar as anotações, elas poderiam ser necessárias para o estudo das sabatinas e, sobretudo, para as provas finais, caso não tivéssemos o rendimento exigido para a promoção automática. Ou seja, a média maior que sete. Havia comprometimento dos alunos com o estudo e obediência aos professores.

Suspendi as recordações e segui meu caminho. Andei alguns passos e passei pelo lugar em que adquiríamos o pão das mãos de Dona Conceição. Não cheguei a conhecer o marido dela, pois já havia falecido. Pois bem, a Padaria Ipiranga, de Dona Conceição, derramava pela rua o aroma do pão saindo do forno. A padaria denotava civismo nas paredes sólidas e escuras. Muitas vezes fiquei impressionada ao olhar a fachada do panifício, sentindo uma ternura pela casa que não cheguei a saber quem mandara construir, mas que me passava um sentimento terno cada vez que avistava. Ou será que era a presença maternal de Dona Conceição? Talvez seja apenas “coisa de criança”, como falava minha mãe quando não sabia dar uma explicação convincente a minha curiosidade. Mudaram a fachada e tiraram o mistério que me encantava. Que pena! Continua...

Nuances de vidas em crônicas (Parte 1)
Nuances de vidas em crônicas (Parte 2)
Nuances de vidas em crônicas (Parte 3)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 4)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 5)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 6)
Nuances de Vidas em Crônicas (Parte 7)

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