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quinta-feira, 10 de março de 2011

COLUNISTA - Elza de Mello



(8)Aquém dos trilhos do trem: vidas em crônicas

A Rua Paraná tomou-se de cores e de feições variadas. O som elétrico levava ao ar músicas que falavam de Içara e, aquém de Içara, especialmente falavam de Urussanga Velha, Lagoa do Jacaré, e Balneário Rincão. Era uma mistura de letras históricas musicada com arte. Enquanto os blocos se preparavam para entrar na avenida, o prefeito e o vice-prefeito cumprimentavam os integrantes do desfile e tam-bém os espectadores que lotaram os passeios da ave-nida do Distrito. Na animação do momento meus pen-samentos voaram para tempos idos. Até porque o Car-naRincão não é uma novidade do momento, mas uma recriação das muitas fases do fazer cultural dos pio-neiros, os imigrantes açorianos.
Em todos os carnavais o homem açoriano festejou-o a festa trazida no bojo da imigração luso-açoriana. Antes eram os entrudos com as mais variadas demonstrações de arte e de humor e o saudoso baile no Chico Joca. Qua-se sempre as peripécias do entrudo eram resumidas em pasquins bem rimados em uma literatura escrachada onde era permitida um pouco de tudo, do escárnio até mesmo as baixarias. E por causa des-sa arte sarcásticas, os pais fo-ram resguardando a presença das filhas e esposas em ativida-des públicas.
Até mesmo o encalhe de uma baleia que chamava a popula-ção curiosa, era motivo de muitos versos chulos para mo-ças de boas famílias.
Depois vieram as noites de carnavais no City Clube. Ali havia a regulamentação e os carnavais eram típicos de uma dança de salão. Porém, pessoas que não tinham acesso ao clube criaram blocos e fizeram um típico carnaval de rua. Um resultado hilário foi uma briga entre os blocos de Pedreiras e do Rincão. Duas pessoas até bem quistas, com famílias unidas através de casamento encontraram motivos para uma tremenda briga devido a uma picuinha política. Os líderes do bloco eram aparentados em família mais adver-sários politicamente. O resultado foi uma pauleira e o fim do saudoso carnaval popular nas ruas do Rincão.
Brincava-se com o boi de mamão, cantava-se o terno de Reis, disputavam-se os torneios na arena beira mar; mas carnaval de rua foi cancelado. Inclusive o entrudo que caiu no esquecimento. Rever blocos na rua e o povo saindo das casas para apreciá-los foi um tiro no meu passado e meu presente içarense.
O povo rinconense é tipicamente alegre e prestigia as suas origens culturais. Carnaval é um evento, como já mencionei, trazido por luso açorianos, mas aqui foi transformado em um evento tipicamente brasileiro. Nenhum outro País faz um carnaval como o Brasil, não só pela riqueza das alegorias, pela beleza dos enredos, pela exposição do nudismo feminino, mas pelo apego cultural que faz famílias inteiras deixarem o seu lar e participar, quer no desfile ou na platéia,o lugar onde acaricia o ego dos foliões. Nenhum folião se sentirá realizado se não houver na avenida um bom público prestigiando-o.
E o CarnaRincão trouxe um bom público para apreciar o seu evento. E creio que nenhum dos presentes saiu desmotivado pela riqueza da apresentação dos blocos, pela presença das autoridades que desfilaram em um carro alegórico muito bem confeccionado com arte e comunicação; o bolo de aniversário falava por si. Mas a letra contando as origens do município, as suas raízes étnicas e culturais, merece nota máxima no placar. Parabéns Rincão, o Carnaval estava tipicamente rinconense, Urussanga Velha é a raiz mais profunda de tuas origens que deixa Içara com os seus trilhos de trem e entra na orla com sua cultura marítima.

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